domingo, 8 de fevereiro de 2009

O CORNO (LIÇÃO DE AUDIOLOGIA)

Estamos em crise.
Todos sabemos que o Governo se tem arredado a aumentar das comparticipações, dos medicamentos, das taxas moderadoras, das estadias hospitalares, dos elementos protésicos para os mais necessitados etc., que no final de contas são todos os portugueses, exceptuando alguns, grandes “investidores”, que depois de falências fraudulentas, o Estado ajuda com seringadelas de capital, em substituição da pena capital ou, em substituição desta, o completo congelamento dos seus bens, colocando os “negociantes”, comparsas de Ali Baba, que são muito acima dos quarenta, completamente na merda.
Assim de relance, é imperativo e pertinente questionar, o que tem a ver o corno com a crise, com as comparticipações ou com as falências fraudulentas?...
As falências fraudulentas ajudaram à crise; esta por sua vez afectou as comparticipações no sector da saúde e, para não falar em todos, vou pegar apenas no sector da audição pois é precisamente neste sistema que por uma questão de medidas de austeridade compulsiva, o dito corno pode fornecer uma prestimosa ajuda.
Provavelmente nem todos os que me lêem e sofrem de perda auditiva, irão andar com um corno dependurado ao ombro ou disfarçado num atabalhoado embrulho de papel pardo, prensado sob a cova do braço à espera que a emergência surja para o seu uso efectivo.
Já sei que nem todos sabem, mas com o avanço da tecnologia e o abuso de ganhar muito em pouco tempo, um minúsculo aparelho para rectificar os níveis de audição, quando é necessário, não está ao alcance da bolsa de todos os moucos portugueses, ou concorrentes a essa endemia, que apesar de aflitiva, nos premeia com murmúrios imperceptíveis ou com o silêncio absoluto, dando-nos um certo refrigério por não ouvir-mos as baboseiras insípidas ou escabrosas saídas de bocas ou matracas que nunca se deviam abrir, (talvez como a minha, não sei!?...) com grande incidência na parte política.
Ora bem, então vamos ao corno todavia, antes de mais, gostaria de engendrar um pequeno prólogo sobre a audição.
Os aparelhos auditivos são construídos para a captação do som normal, aumentar o seu nível de frequência e canalizá-lo o mais próximo possível do tímpano, para que este possa vibrar, transmitindo essa vibração a uma cadeia “mecanizada” de ossinhos (martelo, bigorna, osso lenticular e estribo) que por sua vez a dirigem ao nervo auditivo, cuja função consiste em transforma-la em impulsos neuronais (“eléctricos”) sendo encaminhados para o cérebro de onde nos é dada a percepção do som. A grosso modo é isto que se passa.
Então e o que tem o corno a ver com isso?... Com pertinência perguntarão.
O corno, depois de corriqueiras modificações pode, em muitos casos, substituir perfeitamente esses aparelhos electrónicos que custam os olhos da cara. Os mais aconselhados para o efeito são os cornos de boi, que pela sua configuração pouco retorcida e afunilada permitem uma condição melhorada do efeito de Dopller ao conjunto auditivo debilitado.
O corno de boi tem um formato cónico; depois de se lhe cortar a ponta até aparecer um buraquinho, limpá-lo por dentro e acertar-lhe a base ao gosto de cada um, é só encostar ao ouvido a ponta e orientar a base para a frente e… Aí está o milagre da audição melhorada. Não duvidem, porque isto é verdade!
Os mais sofisticados aparelhos auditivos são programáveis. O corno também o é; começa-se com um corno curto, e à medida que a audição vai diminuindo arranja-se um novo corno, porém com mais um bocadinho de comprimento e assim sucessivamente. Quando um corno inteiro já não der, é muito provável que a surdez absoluta esteja instalada e aí acaba o meu conselho tecnológico.
Claro está, que basta ouvir somente de um ouvido, para ouvirmos muitas vezes aquilo que não gostamos; por isso, os que por ventura queiram tirar proveito dos preceitos desta minha opinião, aconselho-os a não se alambazarem e quererem logo usar um em cada orelha. Isto porque tornar-se caricato, o seu transporte incómodo, cansa os pulsos por se ter que estar a agarrar dois cornos simultaneamente, para além de poder deflagrar alguma confusão de cariz pouco abonatório e também provocar alguma algazarra à concorrência que os tem virtualmente e sem qualquer benefício para melhorar a audição.
E para aqueles que tão mal nos governam e que me leva a crer sofrerem de cofose generalizada, aconselhava-os a usarem um artefacto destes, que para além de serem praticamente de borla, davam um bom exemplo de austeridade, porque o exemplo deve vir de cima, e ouviriam melhor os gritos de dor e de raiva que os portugueses vomitam acometidos de biliar descontentamento, decorrente da crise que grassa neste país, mas que o nosso Primeiro-ministro, naturalmente pela falta de audição, com acentuada teimosia e arrogância desvaloriza.
Ah!… Só um à parte: a peça em evidência, o corno, pode ser personalizado ao gosto do seu utilizador, com uns baixos-relevos, rendilhados na base, consoante a paciência e o dom artístico de cada um, envernizados, ou simplesmente polidos, que também devem ficar com boa aparência.


António Figueiredo e Silva
Coimbra

Sem comentários:

Enviar um comentário