quinta-feira, 23 de julho de 2009

PROFANAÇÃO

PROFANAÇÃO


Em qualquer parte do mundo, o local de culto é sempre um lugar sagrado, independentemente da religião a que pertença, ou à crença, ainda que pagânica, de que faça parte.
E todo aquele que assume por vontade própria a responsabilidade de representar determinado papel, religioso, político, jurídico ou outro qualquer, tem de encarnar o personagem que assumiu como fazendo parte integrante de si próprio; quando não, não é um bom executor do seu papel, seja ele qual for. Não é um bom chefe, um bom líder, um bom pai, um bom sacerdote e por aí fora.
Vem esta ladainha a propósito de um casamento, que foi celebrado no dia 11 de Julho de 2009, numa Igreja que abaixo mencionarei, de cujo evento eu fazia parte, a título convidativo.
O cerimonial do Sacramento do Matrimónio foi celebrado por um padre missionário, vindo do Couto de Cucujães, - que pela serenidade e suavidade das palavras que proferiu, podia adivinhar-se ser uma pessoa condescendente e de boa natureza - e acompanhado por um coral, diga-se, de invejável, celestial e seráfica melodia, que conseguiu aproveitar na totalidade a bem arquitectada acústica do Templo. Como todos os outros, fiquei assombrado!!! As minhas congratulações a todo o grupo por isso.
Contudo, nesta efeméride aconteceram situações que, não só a meu ver, é verdade, são passíveis de crítica; porque por vezes o ser humano na sua inconsciência, não sabe ou não tem por vezes presente, a noção que lhe permite distinguir muito bem o Sagrado do Profano.
Após a realização de quase todo o ritual matrimonial, surgiu abrutamente - abruptamente, queria dizer - de um canto da Igreja, um Sr., envergando uma camisa de manga curta, transportando na mão uns papéis, que depois vim a constatar serem documentos, episódio este, que me levou a pensar ser ele um funcionário da Conservatória do Registo Civil. Dirigiu-se para o Altar, pousou-os sobre a Ara e fez um gesto de convocação aos nubentes para se aproximarem e procederem à manuscrição das suas assinaturas, não sem antes ter feito um meneio com acentuada rudeza, no sentido de “correr” com os fotógrafos e retirar-lhes a possibilidade de um melhor ângulo para captarem as filmagens das subscrições.
Mais tarde vim a saber que este “distinto” Sr., era o padre daquela paróquia, e, ao que parece, pela sua maneira de ser cassiquista, não goza de muita popularidade por aquelas bandas, facto que a mim, pouco ou nada me interessa
Ora, este “Reverendíssimo” Sr., utilizou a Ara do altar, como se fosse um simplíssimo balcão de atendimento de uma repartição pública, uma mesa reles de um antigo tabelião ou um simples pedregulho destituído de qualquer valor.
Isto não deve acontecer, porque o altar constitui o ponto fundamental, o epicentro de uma religião, neste caso a Católica, onde se realiza com devoção, o Mistério da Eucaristia. É o ponto místico mais profundo da união do homem com Deus.
Vá lá que não lhe passou pela moleirinha, que o tempo era de calmaria, abrir uma cervejita e a por “lapso” deixar a garrafa e a carica em cima do altar.
Pela minha apreciação, e não só, houve uma profanação do Sagrado, que são coisas distintas e diametralmente opostas. Houve uma inculta falta de postura num lugar onde isto não deve acontecer.
O “Reverendíssimo Sacerdote” que por certo não será merecedor destes títulos, mais me pareceu um machambeiro (lavrador rude em língua Landi) do que um ministro, um representante de Deus na terra.
Pela maneira como entrou, cheio de prosápia e com fisionomia de auto-valorização, em verdade, em verdade vos digo, que ainda me fez crer que devia ser ele o senhorio da Igreja e que vinha, um pouco belicoso, receber a renda do mês transacto referente ao aluguer do Templo, porém já em considerável atraso.
Bem, por acaso não foi nada disso; enganei-me!?... Que Deus lhe perdoe.
Contudo, apraz-me perguntar: para que serve um aposento anexo em todas as igrejas, chamado sacristia?
Se no entender do “Reverendo” àquele aposento não lhe é dado o uso que lhe é devido, melhor será fazer dele um poiso, um domicílio, para o animal que é considerado como o símbolo da paz; a pomba.


António Figueiredo e Silva
Coimbra

*Esta teatral cena, passou-se na Igreja Nova
de Pindelo, no concelho de Oliveira de Azeméis.

Blog: www.antoniofigueiredo.pt.vu

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