quarta-feira, 16 de setembro de 2009

ASINUS ASINUM FRICAT

ASINUS, ASINUM FRICAT


Récuas deles não faltam nos mais diversos quadrantes do nosso zoo. Nós sabemo-lo. A eles, o conhecimento de tal facto também não passa despercebido; só que existe um impedimento serrado que os “impossibilita” de descobrir as carecas entre si por causa de uma hipócrita maleita chamada deontologia sectária.
Este filosófico conceito, criado para que exista um respeito mútuo entre “profissionais” e o público em geral, tem vindo a ser abusivamente utilizado para o encobrimento de verdadeiras azémolas que a esmo proliferam no nosso meio, porém academicamente certificadas – não doutoradas -. Seria um paradoxo pensar-se que em todas as profissões ditas elitistas, os seus elementos fossem todos considerados a nata da sabedoria. Porém, tal não acontece. Seja na economia ou na política, na medicina ou no direito, na engenharia ou na arquitectura ou noutras profissões quaisquer, o condimento da burrice que tempera muitos dos seus elementos é um facto real. Só que, quanto maior for a orbita social, mais encobertas são as patacoadas, pela coesão dissimulada, baseada na dita deontologia, que deixou de ser a teoria dos deveres morais, do bem e do mal, do que é lícito ou ilícito, para abarcar também a confidencialidade do leque de incompetências, porque fica mal dizer mal do colega de profissão, do mesmo club, do mesmo partido, ou da mesma equipa, ainda que este seja uma autêntica besta ou uma nulidade em absoluto. Daí que os romanos, na sua refinada sabedoria, chegaram à conclusão de que um burro infalivelmente protege sempre o outro, claro está, desde que envergue a mesma camisola, viva no mesmo “curral” e coma à mesma “manjedoura”. Contudo, não deixam por isso de se escoicinhar entre si, donde poderão subsistir alguns hematomas psicológicos que são sol de pouca “dura”, porque vivem debaixo da mesma “cúpula” e comem da mesma “gamela”; mas sem transpirar nada para o exterior do “estábulo”.
É por causa desta reciprocidade proteccionista hipocritamente disfarçada, e do esfreganço mútuo, que os burros vão passando despercebidos no meio de nós e quando descobrimos o resultado das suas burricadas, ou apanhamos alguma patada, já é tarde para lhe prendermos os cascos e lhe enfiarmos a cabeçada, a forma mais ortodoxa, todavia mais eficaz de os levar ao tronco do ferrador.
Se algum prevarica, todos o rodeiam, montam a sua protecção e coçam-lhe o costado com a invenção das mais disparatadas desculpas, reabilitando-o para que a récua continue comendo do mesmo monte de palha, numa forçada e aparente simbiose de camaradagem e sincronia.
Isto é assim pelo menos desde tempos dos Romanos, e assim continuará a ser, por todos os séculos, até que a comichão lombar se acabe. Aí oooh!
Por conotação, é precisamente isto que tem vindo a acontecer entre os nossos políticos, com mais incidência nuns do que noutros. E não só!?


António Figueiredo e Silva
Coimbra

* um burro “esfrega” o outro.

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