segunda-feira, 28 de setembro de 2009

ESTUDAR E "ENCORNAR"

ESTUDAR E “ENCORNAR”*


O estudo, bastante árduo por sinal, é baseado na compreensão, na investigação, na lógica das conclusões e até na intuição para cujos predicados é necessária inteligência. Indubitavelmente esta tem que ser uma inteligência nata, propensa aos desafios e à destrinça da problemática dos mais diversos sectores do mundo em que vivemos; por isso, capaz de se embrenhar nos complicados meandros da eurística e da hermenêutica, com precisão e sem perder o seu azimute.
O estudo que não passe pela compreensão e apenas se baseie na assimilação de tudo quanto os nossos sentidos alcancem, armazenando o seu produto nas prateleiras cerebrais até que se proporcione uma descarga autoclísmica para o exterior, não é estudo, mas sim, “encornanço”, que não leva a lado nenhum porque o cérebro deficiente não consegue equacionar os dados armazenados à “marrêta” e criar conclusões, abrindo brechas na estrutura dos dados assimilados, como se as sinapses estivessem bloqueadas ou os neurónios com a sua polarização invertida.
Quem “encorna” não estuda e apenas se limita a fazer uma clonagem do conteúdo científico, absorvendo a sua mancha como um mata-borrão. Posteriormente, quando solicitado o seu conhecimento, fica automaticamente repetindo o que tem gravado no cortex cerebral, o que para muitos já não é nada mau, pois nem toda a gente detém essa “deficiência”.
-Aquele é “inteligente”!... Não precisa de estudar. Ouve tudo o que professor diz e já está.
Assim vai vivendo e gozando de uma fama que foi mal atribuída, e, regurgitando o que apreendeu mas não aprendeu, vai “subindo” na hierarquia social cheio de presunção, mas sob a persistente e implacável perseguição do conhecimento absoluto da sua deficiência congénita que em horas de aperto o desmascara, tornando-o por vezes irreverente, teimoso, ingrato e mal educado, ao aperceber-se que realmente não sabe “nada”, transformando-se assim numa presa fácil para predadores mais bem preparados e com calo no cú.
E é mais ou menos dentro destas linhas que se formam aqueles a quem, na gíria popular, é atribuído o nome sarcasticamente depreciativo de “doutores da mula ruça”.
Muitos, provavelmente nem serão merecedores desse nome, porque a sua cabeça vale menos do que a do burro* que “montam”.


António Figueiredo e Silva
Coimbra


*Não quero aqui ofender os touros ou os burros
e muito menos quem tenha o complexo deles.

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