sexta-feira, 18 de maio de 2012

CAFÉ SEM AÇÚCAR (Novas Oportunidades)


CAFÉ SEM AÇÚCAR
 (Novas Oportunidades)



Aqui há uns tempos…
- Então, rapaz, o que é que tens feito durante estes tempos em que não nos temos visto? Perguntei eu, a um amigo com quem não contactava talvez há mais de um ano.
- Olha, cá bou andando a coçá-los; agora também ando a tirar o 9º ano, atrabés daquela coisa qu’ é as nobas oportunidades. Bieram ter comigo e eu foi.
E tu achas-te com capacidade para isso? Perguntei.
- Num sei, o que sei é que eles pago-me p’ra isso; mas põe-me lá uns númaros pu riba dos oitros que eu num cumprendo nada daquilo. E rindo com acentuada malícia, ainda acrescenta:
- Eu mal sei cuntar até dez!?
Este diminuto fragmento de um longo diálogo, que se manteve durante umas horas alimentado com matéria diversificada, acompanhado com umas lascas de bom presunto e uma óptima pinga à mistura, tem por finalidade impor uma certa aferição às palavras verbadas por Passos Coelho, no que concerne ao programa das Novas Oportunidades.
Não sou pessoa que vá muito com ele, mas que a ele assiste uma determinada razão, não deixa de ser uma realidade, cuja sombra, talvez para muitos não seja vantajosa.
Claro está que muito têm especulado sobre o conteúdo da sua verborreia, interpretando-o literalmente por uma questão de interesse e não por desconhecimento do fundamento que séria e implicitamente o caracteriza. Não duvido que seja do conhecimento geral, excluindo os irreflectidos e os interesseiros na tesourada, que a maioria dos “estudantes” afectos a esse programa, entrou lá a saber dizer tá-tá e saíu a saber dizer tótó. Nada mais. Nada mais, não é bem assim, porque na realidade mudaram as vogais da prosa sem alterarem as consoantes e o solfejo musical da mesma, o que pode considerar-se, à luz mortiça e gemada da ignorância construída sobre um monte barrento de ostentação sem fundações, uma já óptima cavacadela na nossa “clivagem científica”.
Claro está, que muitos deles, apesar de “diplomados”, continuam à espera de uma ocupação rentável, tenebroso infortúnio que eu realmente eu lamento, mas lá vão coitados, em nervosos desabafos de incontida indignação, derramando as suas lamúrias repletas de sôcos na gramática portuguesa, que nem as Novas Oportunidades conseguiram – souberam -  aplainar.        
Nós sabemos que houve muita coisa mal feita - e continua a haver – e foi passando em branco, apesar de estarmos tecnicamente falidos mas não oficialmente hipotecados. Actualmente as coisas fiam mais fino, porque não vejo que sejamos donos do nosso próprio destino. As linhas com que cosemos a nossa governação são importadas coercivamente pela implacável imposição de um Triunvirato a soldo do grande capital.
“Empenharam-se” de nos “oferecer” café bem açucarado e fiado; agora que se fartaram, somos coagidos a beber café sem açúcar, e, qualquer dia, nem café teremos.
Por isso, caros ledores e entendedores das minhas epístolas, a meu ver, as Novas Oportunidades, tal como foram manuseadas, serviram presumivelmente para fazer inchar as contas bancárias a uma minoria, perante transversalidade da oblação de umas migalhas a uma pluralidade de ceguêtas. Nas entrelinhas, sob uma interpretação directa e a frio, foi isto que Passos Coelho teve por intenção exprimir.
Finalmente, por causa desta e de muitas outras coisas mal concebidas, mal administradas e mal fiscalizadas, cá nos encontramos a nosso contra gosto, a beber café sem açúcar. E vá lá, vá lá!?
O que não sabemos, é até quando!...


António Figueiredo e Silva
Coimbra

OBS: Ainda não estou em conformidade
 com o acordo luso-brasileiro.


17/05/2012
  

Sem comentários:

Enviar um comentário