segunda-feira, 21 de maio de 2012

LOCUÇÕES DESAFORTUNADAS


LOCUÇÕES DESAFORTUNADAS
(Carta aberta ao Primeiro-ministro de Portugal)


O desemprego, “não pode ser para muita gente,
 (…) um sinal negativo. (…) tem de representar
 também, uma oportunidade para mudar de vida”…

(Palavras do Primeiro-ministro Pedro Passos Coelho)



Exmo Sr. Primeiro-ministro
Pedro Passos Coelho
                                                                                                   

Para eu ter investido o meu voto a fim de dar a V. Exa. uma oportunidade para mudar de vida e agora ter de escrever-lhe esta carta aberta, e, também de franca leitura para todos os portugueses, creia-me sinceramente ressentido pelas palavras, para mim mal aferidas, que se calhar irreflectidamente baldeou cá para fora.
Quando nos propomos a ocupar altos ministérios, as nossas dissertações devem ser feitas por conta, peso e laminar comensuração, para que o seu conteúdo não perturbe a digestão de alguma dura situação, que por si só já seja de difícil “ruminação”, como é esta que actualmente se vive no nosso desorganizado cantinho dos marrêtas.
Saiba V. Exa. que o desemprego, para quem quer e necessita trabalhar para suportar as despesas próprias ou do colectivo parental, se tiver família, é um fantasma que pode levar uma pessoa à alienação mental, podendo arrastá-la ao empreendimento de actos que podem estar em contravenção com a moral, com a ética, e, consequentemente com a lei, cuja diligência desta, (lei) também incontáveis vezes deixa interrogações, quanto à sua imparcialidade e cegueira; de quando em vez só vê com o olho da conveniência, mas adiante.
Perante uma mancha com cerca de oitocentas e vinte mil pessoas – contabilizando somente as inscritas - que o estado caótico do país colocou nesta nova oportunidade para mudarem de vida, já pensou na colisão de “solidariedade positiva” que as palavras que pronunciou tiveram em muitas cabeças, por certo endémicas pelo desgaste profunda desorientação?
Sr. Primeiro-ministro, quem redige estes pareceres não é um desempregado, contudo, um rapaz velho, de sessenta e sete anos de idade, “sem erudição” mas com calo no cú, que por políticas mal concebidas e subdesenvolvidas por alguns “crânios” deste país, que fizeram então parte da corte do perdulário reinado Soarista, passou também pela situação que ora V. Exa. sem pestanejar nem gaguejar, conota como uma oportunidade para mudar de vida. O desemprego.
 Realmente essa oportunidade para mudar de vida que o governo por V. Exa. liderado oferece a muitos portugueses, é de grande amplitude ocasional e justifica muitas “conjunções”, que actualmente podem encetar a sua expansão desregrada. Por exemplo: uma nova ocupação mal remunerada, para quem tiver sorte, – isto acontece sempre, quando a oferta é maior do que a procura - até a oportunidade de passar noites mal dormidas, se ainda não entregou o catre ao banco, - se entregou tem as pontes por abrigo e outros locais de grande referência “turística” que por aí abundam – passando pela oportunidade compulsiva de emigrar – mesmo que o não seja seu desejo – ou até optar pela oportunidade de ser um bom vigarista ou trapaceiro, - enquanto não for apanhado – passando também pela oportunidade mais fácil que é ser um gatunito de meia-tigela, para custear a sua sobrevivência, - até ser colocado no barraco sob apresentação peródica de identidade e residência etc.
Uma oportunidade impensável será arrecadar o subsídio do Fundo de Desemprego.
Porém, Sr. Primeiro-ministro, quando todas estas e outras oportunidades não mencionadas falharem, ainda resta, sob forte depressão, a oportunidade última que é enfiar um balásio nos miolos e emigrar para o além, onde existem oportunidades sem fim. Todavia, se não tiver narta para adquirir uma arma ilícita na “escola da noite”, ainda lhe sobra como derradeiro bálsamo, o recurso a um bocado de cordel, bem forte, que está ao alcance de qualquer desempregado ou alucinado, quando ele se sentir atacado pelo rechinar de forte demência e tiver a piedosa certeza de que realmente quer mudar de vida – árvores não faltam.
É a isto que se chama oportunismo austero, - o que o país carece para comprimir a despesa – com o objectivo de agarrar a máxima oportunidade para mudar de vida, e está ao alcance de todos, sem quaisquer distinções!?
Afinal, V. Exa. tem razão! (?...).
Atentamente.

António Figueiredo e Silva
Coimbra

17/05/2012

PS: Esta carta foi enviada
para variados periódicos.

Obs: ainda não estou em concordância
com o recente acordo ortográfico.


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