terça-feira, 31 de dezembro de 2013

PARA TODO O MUNDO



PARA TODO O MUNDO!

Para os infelizes; que sejam bafejados pela felicidade.
Para os enfermos; que a cura ocupe o lugar da doença.
Para os carentes; que a esperança não os abandone.
Para os indignados; que não deixem de reagir pela causa, mas com temperança.
Para os desmotivados; que a renovação da coragem lhes entre na alma.
Para os abastados; que distribuam algum pelos mais necessitados.
Para os que não tiveram sorte na vida; que a ventura os alcance.
Para os que a guerra não lhes permite dormir sem desapoquentação; que a paz seja uma realidade.
Para os ateus; que enxerguem mais ao longe, onde a realidade é um facto e não uma quimera.
E, finalmente para os governantes; que tenham mais juízo, os que até agora o não tiveram, e, principalmente, que não se governem só a si próprios.

A TODOS DESEJO UM BOM NOVO ANO, NOS PENSAMENTOS E NAS ACÇÕES.

São os meus desejos.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 31/12/2013
www.antoniofigueiredo .pt.vu












domingo, 29 de dezembro de 2013

O NATAL DA BURRA



Quem o seu não vê, o Diabo o leva.
(ditado popular)       

O NATAL DA BURRA
(história verdadeira, passada numa vetusta aldeia transmontana)


Não vou começar esta narração por, “era uma vez”... Porque este caso não é resultado do imaginário, mas de uma situação verídica, em que pelo apurado sentido de esperteza de uma burra velha, cheia de peladas e já castigada pela arduidade do trabalho, alguém, por algum desleixo, ficou com o estômago aos coices, por não ter considerado a argúcia asinina.
Aconteceu no dia a seguir ao Natal. As serranias circundantes estavam coroadas de imaculada brancura resultante de fortes nevões nos dias anteriores; uma brisa sorrateira cortava o ar com as suas lâminas afiadas pelo frio do inverno e teimava em entorpecer as mãos, apesar das luvas de pura lã, urdidas ao conhecido som crepitante da lenha que ardia na lareira durante os serões, entre dois dedos de conversa solenemente cavaqueada. Há uns anitos era assim na maioria das terras transmontanas nesta época do ano – e em parte, ainda hoje continua a ser.
Um casal, já meio rompido pela idade, cujos proventos para a sua sobrevivência e dos familiares que ainda não haviam saído para a estranja, eram arrancados de alguns campos e courelas que possuíam, à custa de um esforço esclavagista, debaixo do sol tórrido no estio ou sob as condições friorentas invernais. Era uma amarga luta sem tréguas, porque as reformas, mesmo miseráveis, de que hoje muitos se lamentam, ainda não existiam. Era mesmo um tempo de sacrifício carregado penosamente sob o alpendre da esperança.
Em um dos terrenos que possuíam, havia algumas olivas, que através dos anos lhes vinham garantido as azeitonas, acompanhamento nas refeições mais frugais, com toucinho, presunto ou outro lambisco qualquer e escuro pão de centeio; além disto, ainda fruíam da preciosa untadura chamada azeite, que servia para tudo, até para mezinhas medicamentosas, no caso de furúnculos, emboxas* (bolhas) e outros maleitas variadas, cuja cura era amparada por crenças em parte religiosas (o azeite bento) e noutra parte, assente na medicina rural, adquirida através de gerações e passada verbalmente.
O casal, principal interveniente nesta história, resolveu, no dia a seguir ao Natal, ir apanhar azeitonas para o seu pequeno olival. Resolveram fazê-lo da parte da tarde, porque ser menos penoso devido ao frio. Fizeram uma merenda fora do comum, pois nesta ocasião sobram sempre muitas lambisquices; rabanadas, bolos de bacalhau, filhós de jerimu feitos de uma abóbora tipo menina, uma garrafa de pingolêta de produção privada, sem sulfitos nem água, arrearam e carregaram a velha e se calhar artrítica burra, e puseram-se a caminho mais duas netinhas que na altura estavam com eles.
Chegados ao destino, prenderam a burra a um olmo que certamente já havia presenciado a passagem de romanos por aquelas bandas, junto deixaram a merenda e lá começaram a dolorosa azáfama que atrás de si traz fatigantes dores lombares, a primeira moeda com que se começa a pagar os bens fornecidos por aquele fruto; a azeitona.
Lá foram andando curvados perante os frutos negros que com paciência iam pegando, não sem que a brisa lhes arengasse aos ouvidos frias e irritantes preces desistência. As netinhas, entre as brincadeiras pueris e risos inocentes, mesmo fazendo de conta qua apanhavam azeitonas, lá iam apanhando algumas com a promessa de cinco c’roas (vinte e cinco tostões) para bolachas de baunilha, mercadas no “hipermercado” do Chafariz.
O tempo a muito custo ia passando, até que os estômagos começaram com as suas persistentes reclamações; certamente que estaria na hora de manducar alguma coisa.
A mais velha das meninas, pela sorrelfa dirige-se ao cesto, a caixa de pandora onde tinha sido transportada a merenda, e, ao olhar, deparou com o pano de linho grosseiro, esmerado protector da bucha, amarfanhado ao lado do cesto, no qual apenas jaziam alguns papéis-vegetal meio lambidos e a garrafa do tintol numa posição ébria como que a dormir a sono solto, no pleno gozo do conteúdo etílico que alimentava o seu interior. Escapou, talvez porque a burra não viu o velho saca-rolhas encolhido a um canto, no fundo do cesto. A burra, com aquele olhar repleto de infindável calma asinina, ainda lambia a beiça regaladamente, com uma expressão nítida de contentamento; uma expressão humanizada, na cara de uma burra.
- Avó, avó – diz a mais velhinha - a burra comeu a merenda toda; só lá ficaram as puras migalhas!
A avó, que era uma pessoa que gostava de coisas caricatas, no meio do desalento ainda soltou em desenfreadas risadas; quanto ao avô, ao que parece, foi ajustar as contas com a burra, que certamente pagou com o lombo a incúria de outrem.
O remédio foi o regresso a casa para saciar a larica e diluir o nervosismo, que não devia ser pequeno.
O casal, já está no outro lado frio e desconhecido da vida há uns bons anos; contudo, ainda restam as duas netas, que fizeram parte da “novela” e de vez em quando, com sublime saudade e recordado carinho contam a peripécia aqui narrada.

Obs. Conto este facto, por duas razões: a primeira
é por a achar engraçada e a saudade das pessoas
que conheci, assomar-se à minha memória;
a segunda, é só para dizer que à semelhança da
feito desta burra, todos nós temos também muitas
burras e burros, a comer-nos a “merenda”,
por incúria nossa e ainda escoicinham.

 *Leia-se embotchas.


António Figueiredo e Silva
Coimbra, 26/12/2013
www.antoniofigueiredo.pt.vu








 

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

TERAPIA CASSETTIANA





                                                                                                                                           *O mêdo é o pai da Moral. 
                                                                                                                                                                           (Nietsch)

ONDE PARAM?...

                                   
…A terapia cassetetiana e a implacabilidade correccional?
Obviamente que esta palavra (cassetetiana) não se encontra em nenhum dicionário que o público mais ávido de conhecimento possa consultar; no entanto, por analogia, não será necessária grande sapiência para compreender o sentido deste “neologismo” que, diga-se de passagem, a aplicação prática nos nossos dias faz muita falta.
É imperativamente necessária, porque existe uma desenfreada proliferação de alienados, cujas pulsões os leva a crer somente na sua própria existência, impondo pela lei da força a “supremacia” do seu pensar doentio. Não desconhecendo porém os deveres a que estão sujeitos e perante os quais obtusamente fazem vista grossa, preferem enveredar pela alta criminalidade e pelo vandalismo por falta da terapia do casse-tête e pela exagerada condescendência emanada pela forma dos parâmetros legais, quer na sua filosofia, quer na sua aplicação. Para esses oponentes da paz social, sem razão alguma, não há nada tão eficaz como um bom banho de chouriçada com consequente terapia hospitalar, para lhes avivar a memória e fazê-los saber que também têm deveres a cumprir.
A demonstração verdadeira de que uma democracia não pode ser liberdade absoluta sem uma imposição de soberania estatal em todos os sectores, é mais que evidente nos nossos dias. Os abalos sísmicos que têm aluído a justiça e a perda de autoridade nos tribunais e nas forças de segurança são factos reais que sobejamente atestam aquilo que acabei de verbar. Aliás, isto já foi extenso tema do “Touro Enraivecido” António Marinho Pinto, a quem muitíssimos portugueses aplaudiram a coragem e a frontalidade das suas alocuções e outros, menos do que muitos mas de afiada e saudável dentição, rosnaram de dentro dos seus canis num tom ameaçador, de “baixa a bola se não lixas-te”; o que me parece ter sortido efeito pela sub-reptícia moderação que vim presenciando.
São os Tribunais instituições que por incumbência deviam promulgar a soberania do Estado sobre o cidadão, de uma forma justa e transparente, ainda que para haja que ser usada a imperatividade coerciva para os mais arredios, e não o estão a fazer cabalmente, porque o próprio Estado não lhes confere poder para tal.
Cabe às Forças de Segurança, a manutenção da paz social e o cumprimento dos deveres cívicos entre os cidadãos, contribuindo para isso com a limpeza dos elementos nocivos a essas formas de estabilidade, no entanto, aos poucos vão sendo impedidos também de o fazer; quase que nem a eles próprios se podem defender.
Afinal que peso poderá ter contra a criminalidade, um reforço de armamento ainda que sofisticado, se não pode ser usado?!... Quando tomba um criminoso, cai o Carmo e a Trindade. São processos de investigação, processos disciplinares, suspensões temporárias etc. Quando cai alguém das forças de segurança no cumprimento do seu dever, o badalar é parco e no fim resolve-se com a chancela de meia dúzia de pás de terra por cima.
O Governo nada resolve legislando sob a égide da condescendência ao enveredar pela filosofia da compreensão, em que cada acto criminoso pauta por uma justificação própria que o levou ao fim acusável.
Afinal quem são os criminosos?... Os que cometem os erros ou os que aplainam o caminho que lhes faculta a execução das suas prevaricações?
Penso que há legislação a mais e objectividade a menos, sendo uma das causas do aumento da criminalidade e do entupimento do tráfego processual nos tribunais. Podes verificar Zé, que a Justiça, que devia actuar de olhos fechados e cortar a direito, pisca um olho e por vezes é estrábica; tem a balança mal aferida, a espada romba de um dos gumes e cambaleia entre a rectidão e a parcialidade, ao sabor das influências que a rodeiam.
Obviamente que não é para acabar de vez com a criminalidade mas simplesmente diminuí-la, é promover a justiça ortodoxa, que apesar de pouco aceitável pelos pseudo-puritanos e demagogos, me parece garantir mais eficácia para muitíssimo casos; não há melhor do que uma boa sessão de casse-tête, culminando com um saída de charola para uma recuperação hospitalar.
No tempo de Salazar, era a solução mais fácil, mais barata e de mais rápido restabelecimento, fazia bem ao corpo e à alma, e só tinha acesso a esse tratamento quem queria. Era um acto voluntário.
Não havia psicólogos a “analisar” o estado psicótico do criminoso, não havia subsídios de reinserção social e os Direitos do Homem eram realmente para os que andavam dentro do rego legal.
Não havia tanto apaparicamento ao malfeitor, muitíssimos problemas eram resolvidos nas Esquadras das Forças de Segurança e ficavam bem gravados na memória dos “artistas”.
Não!... Que elas mordiam!?...


António Figueiredo e Silva
Coimbra

*Eu sei que mêdo não leva assento circunflexo,
porém, eu sou contra o acordo Luso-brasileiro