terça-feira, 26 de março de 2013

A REMIGRAÇÃO DO TRAPACEIRO



Errar é próprio do homem.
Persistir no erro é próprio dos loucos.
(Cicero)

A REMIGRAÇÃO DO  “TRAPACEIRO”


Devemos partir do princípio que, quando existem comentários entre pessoas credíveis, ainda que com ideias divergentes, podemos assimilar alguma realidade e tirar conclusões prestáveis; porém, se a falta de credibilidade ou/e de carácter existe em alguma delas, as ilações a tirar não serão fiáveis porque a sua nascença é sempre manchada pela dúvida.
Perante o que acabei de discorrer e para que não exista mais espaço interrogativo à volta do meu palavreado, anuncio que aí temos Ti Zé Sócrates Pinto de Sousa, o maior mestre de sempre em aldrabice, como comentador político no canal televisivo RTP1, canal este, que sobrevive à custa do cidadão português. Uma vergonha, e, acima de tudo, um insulto a todos nós.
Já não chegou a estadia governativa desse cavalheiro, no campo fecundo da politiquice onde ele pôde agricultar toda a sua racional - para ele - retórica na terra macia nos alfobres da aldrabice, colher a frutificação sem o suor do rosto, imputando ao povo que desgovernou o pagamento feudal pela safra? Além do que se sabe, do que se supõe que se sabe e do que se conhece, ainda arrastou uma reforma vitalícia no fim da sua árdua labuta, que manobrou com mestria e vincada irresponsabilidade, sem nunca ter sido incriminado por isso.
Vem agora este sr, com a credibilidade pouco avalizada, tecer comentários políticos no canal RTP1 e o povo português é coagido a compensar o carrasco que lhes cortou a gorja e escapuliu para uma lavagem no tempo, vivida à grande e à francesa, com toda a abrangência que o vocábulo comporta.
É preciso ter lata!... Espero bem que o povo não tenha derrapado nesse espaço temporal e esquecido o que agora lhe sidera os miolos.
Pela parte que me toca, sou tão fanático por ele que, cheio de azedume, até lhe erigi um monumento privado, possivelmente o único existente neste território de avécolas, a marcar para sempre o fosso em que este cosmopolita nos deixou enfiados.
Lamento pensar desta forma, mas para indivíduos deste calibre, pois sei que ainda existe muito mais gérmen desta laia, não devia ser aplicada a ética da democracia e para o canal que lhes suporta os “golpes”, promover um boicote ao número de audiências, transformando aquele tempo de antena num instante de nojo fúnebre e duradouro.
Nunca afiancei a historieta do filho pródigo.


António Figueiredo e Silva
Coimbra 26/03/2013
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AS LUVAS




                                                  AS LUVAS

São os componentes de agasalho com maior versatilidade que conheço. Actualmente o seu uso tem sido abusivamente solicitado e não tardará muito que, para nos cumprimentarmos, não poderemos prescindir da sua acção protectora. O seu enraizamento na cultura humana é tão massivo, que quando é intenção de alguém urdir uma trama ao parceiro, invariavelmente usa luvas, para que as palavras saiam com uma macieza mais algodoada e consigam vazar a indecisão e instalar em seu lugar a concretização, antes onírica, de uma pretensão que vai metamorfosear-se em certeza.
Toda a gente usa luvas; uns porque têm mesmo necessidade da sua protecção, outros, por pura vaidade. Os emproados e os que realmente labutam, não aborrecem ninguém e cada um usa-as à feição para os fins de que mais necessita. Alguma figuras, cuja razão desconheço porque as usam, são os mordomos e os porteiros dos hotéis; não passam esquecidos também, os guarda-portas dos bordéis mais requintados, onde a “ralé” de alto gabarito faz o seu tratamento etílico e em sigilosa privacidade roça o seu toucinho. Porém, desde o pedreiro ao carpinteiro, não fugindo ao trolha, passando pelo ferreiro, ferrador, engenheiro e engenheireco, atendendo também ao alveitar, médico e veterinário, enfermeira, parteira, etc. por todas aquelas mãos passam guantes.
As luvas não servem só para proteger o ser humano perante a agressividade das condições climáticas ou do trabalho; são como o bacalhau, existe mil e umas maneiras para a sua conveniente utilização, em função dos fins a que se destinam.
Até aqui não há nada de relevante a comentar ou a lamentar; a grande questão, quiçá discutível a respeito das luvas, é quando elas entram e acalentam o universo político, governativo e institucional de qualquer país. Quando bem calçadas em mãos comandadas por consciências inexistentes, das quais Portugal está francamente bem servido, podem promover a corrupção e infectar os mais diversos elementos que agregam todos sistemas de uma cadeia administrativa, levando-os desta forma a um inevitável apodrecimento de difícil travagem, cujas consequências serão desastrosas. As luvas conseguem degolar todas as regras, por muita rigidez que seja criada para evitar a sua “injunção”. As luvas, como os nomes, entram em tudo, e principalmente são o unto lubrificador da ilegalidade onde as regras escorregam e a investigação patina; são os óculos laterais em couro, que embargam a visão periférica fazendo a “vista grossa”, permitindo que tudo o que passe ao lado, intencionalmente não seja entendido.
A compra de submarinos, viaturas de alta cilindrada para chefões, blindados para forças de segurança, contractos de parcerias público-privadas e similares, concessões para construção dos mais diversos edifícios, aglutinando também parques de estacionamento, estádios, latrinas públicas e até míseros muros de protecção etc., são quase sempre “legalmente” executados sob a acção protectora de guantes, que podem ser substituídos por outros interesses subjacentes. 
As luvas, dependendo das mãos de quem as recebe, desemperram as mais diversas engrenagens burocráticas  que por vezes não têm préstimo algum, mas que funcionam como uma pedra no sapato do cidadão comum. Podem ser também manhosamente utilizadas em sectores, tais como o judicial, segurança, fiscalização, saúde… e a propósito de saúde vejamos isto: então as luvas não foram usadas pelo nosso governo e por aquele triunvirato manhoso, a soldo de um sistema especulativo e escandaloso, para fazerem o toque rectal à nossa economia, e, concomitantemente a todos os portugueses, cujas “dores” ainda agora continuam a causticar-nos a pele?
Por tudo isto, as luvas, principalmente aquelas que serpenteiam no campo fraudulento do secretismo onde é criada a mineração do embuste para escamotear interesses próprios, são dignas deste caricato mas real quadro.
Dixit.

António Figueiredo e Silva
Coimbra 24/03/2013
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terça-feira, 19 de março de 2013

A PASSARADA



«Os políticos não sabem nada.
Estão longe da realidade».
(Alexandre Soares dos Santos)


A PASSARADA


Como um passarinho em época de cio, a saltitar de árvore em árvore, de galho em galho, a assobiar sempre a mesma melodia na mira de um engate, assim anda António José seguro a pinchar de local em local, de palanque em palanque, a chilrear uma bonita mas não convincente cantilena de adormecimento aos portugueses, na tentativa demonstrar que é possível fazer omoletas sem ovos. Isto é, sem condimentos sólidos, fazer alguma coisa palpável. Sou bastante céptico em relação aos milagreiros.
É do conhecimento geral, que isto está muito mau, para não dizer péssimo. Mas também não duvido e é noção com a mesma abrangência, que não há circunstâncias vigentes, alternativa para mudar o estado calamitoso em que nos encontramos.
É evidente que não culpo unicamente o partido que lidera por toda crise cá instalada, mas que o maior quinhão é pertença da aplicação das suas políticas, não é de duvidar, em face das patacoadas que foram cometidas e das aldrabices amontoadas e deliberadamente ocultas nos cofres do secretismo.
Victor Constâncio, na altura administrador do Banco de Portugal, desconhecia o estado económico do País? Não foi verdade que José Sócrates, com reconhecido mestrado em ladainhas, negou até à última letra e dia de governação, o estado caótico em que Portugal se encontrava? Não foi o PS, o carrasco que primeiramente enfiou o pescoço dos portugueses na guilhotina da troica?  
Aonde é que se encontra agora a alternativa de que tanto necessitamos? Substituir água destilada por água normal, tudo vai dar ao mesmo, ou, contemplando o passado, vai dar a pior.
Isto de patriotismo, solidariedade, transparência, rigor, justiça, saúde, educação, são tijolos vocabulares que fazem parte da construção de grandes lérias, destinadas ao entorpecimento das mentes menos esclarecidas ou devoradas pela deslembrança.
Ao longo de todo o tempo que venho a enxergar os mamões (políticos), sempre surgiram alternativas visionárias argumentadas por eles; contudo, em cada interpolação partidária para a governação, as alternâncias redundaram num comprovado fracasso, sem que ninguém até à data haja sido responsabilizado.
Ora, este Sr. que faz parte do bando da penugem, quer agora aquilatar-se como o indubitável e inquestionável redentor da miserável condição dos portugueses. Busca a todo o custo derrubar a actual governação, sem se incomodar com a desordem e os custos daí decorrentes; se isto vier a verificar-se, será mais uma acha para a fogueira da desarticulação e consequente destruição da já depauperada instabilidade em que nos encontramos.
É efectiva a certeza de que estamos ser arpoados por uma crise económica sem precedentes e o ministro das Finanças, Victor Gaspar, resguardado pelas competências que lhe foram conferidas e com um estrabismo economicista controlado do exterior, nada mais tem feito do que causticar a população portuguesa com impostos sobre impostos, sem que daí nada tenha resultado para abrandar os efeitos desse abalroamento. Não deixo de não dizer, esta situação é revoltante!
Claro que não vou ser eu a derramar ideias sobre governação nem compreendo nada do assunto, mas sinto que quem para lá for, certamente que não irá fazer melhor. Fará igual ou pior, ou deixa o barco à deriva até que a Alemanha nos trate da saúde.
Perante isto, não vejo razões para que António José Seguro se posicione como um samurai e continue a soltar os seus gorjeios vazios de substância mas fartos de imaginações entorpecedoras, dirigidos aos cacos onde o vazio ou a incerteza, por força das circunstâncias já habitam.
Isto é que é uma passarada!?

António Figueiredo e Silva
Coimbra 18/03/2013
  

quinta-feira, 14 de março de 2013

25 DE ABRIL?!



 
 "Teimosia é firmeza de carácter adulterada pela estupidez."
(Friedrich Nietzsche)





25 DE ABRIL?!



Com todo o ressentimento que aguilhoa a minha sensibilidade consensual vezes sem fim, em inúmeras ocasiões dou comigo a meditar sobre o que leva o ser humano a promover a auto-flagelação anímica, da qual sobrevêm profundas e gravíssimas sequelas materiais. Só pode ser por pura alienação mental.
Hoje dou com o meu pensamento fora do cabresto a “rebulir” sobre sombras do passado que o tempo em vão tentou amarfanhar e a analisar realidades presentes, grossos fios de água brutados (é mesmo brutados que quero dizer) das fontes de incúria e falta de juízo, como se os calos nunca houvessem doído. Perante isto, forçado a recordar e a ver quão falha e ridícula é a mente humana, não consigo ficar silente com o mundo em geral, nem comigo próprio, porque existe dentro de mim uma ebulição revoltosa, que, como um cancro, está firmemente presa pelas amarras de amargas recordações do pretérito, – eu não esqueci – pelas correntes da trama destruidoras do presente e pelas barras fortes da ( in)certeza no futuro, que apesar da virtualidade que encerra, terá mais de real do que de incerto. O caos!
Certamente que os pretensiosos neo-filósofos que ora clamam por um novo 25 de Abril, nunca devem ter vivido na pele o verdadeiro ponto escaldante dessa sublevação e penso também que ainda não terão sentido, por pastosa incapacidade analítica, o aperto decorrente dessa “façanha” histórica, que a uma consistente maioria implacavelmente aflige.
Esse acontecimento foi e continua a ser considerado o dia da liberdade! É verdade, mas para quem? Espero que por falta de sensatez e outras falhas sensoriais quaisquer, não hajam alguns macambúzios que queiram condicionar essa liberdade ao eu estar para aqui a escrever esta meia dúzia de baboseiras.
Estes lunáticos videntes e atiçadores, que a esmo difundem essa ideia de liberdade, algum dia ficaram sem emprego ou viram a sua família em campo de refugiados, com a sobrevivência amparada pela caridade alheia?
Algum dia estes kamikazes da politiquice, em nome desse efémero acontecimento foram obrigados a abandonar ou viram os seus bens ser-lhes arrancados pela força, ficando eles reduzidos a uma encolhida miséria? Não, certamente que não viram, nem pareceram sobre o clima tórrido das consequências resultantes daquele dia. Se tivessem enxergado e torrado bem, não iriam reclamar novamente o ponto de partida para o afundamento de todos nós.
Eu, como tantos outros, vivi no antes e no depois, sendo-me possível por isso justapor ambos os ângulos e fundamentar as minhas ilações.
O 25 de Abril permitiu abrir uma frincha no seu odre, donde saiu todo o bambúrrio de bicharada poluente, que ainda hoje continua a infectar a nossa harmonia e bem-estar; despontou a ambição sem limites onde não há meta de papo cheio; emergiu do seu ventre a corrupção venenosa e o abuso de poder, a atmosfera criadora de um maior sulco entre a pobreza e a riqueza; cavalgando em burro coxo, saiu a libertinagem mascarada de liberdade, moléstia que a todos tem abrangido sem olhar a princípios; a honra, essa ficou completamente decepada e já poucos “anormais” existem que não sintam vergonha em tê-la; a legislação é elaborada por alguém que talvez até saiba da poda, contudo a espada que a aplica ficou romba e não consegue cortar a direito por deficiência nas mãos que a manobram tolhidas por interesses exógenos e alheios ao nosso conhecimento; os miseráveis aumentaram consideravelmente e muitos, ainda que revestidos por razoável farpela, desfrutam duas orelhas que constituem apenas os marcos limitadores dum espaço vazio; a delinquência tem vindo a sobrepor-se à tranquilidade; torna-se cada vez mais difícil dar alimento à saúde, pois já não está ao alcance de todas as algibeiras; a vontade de vencer está a dar lugar à apatia e ao desinteresse porque não há futuro risonho à vista, etc.
Entre prejuízos e benefícios, mesmo remando contra a loucura de algumas correntes, seria preferível um 24 de Abril.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 14/03/2013






domingo, 10 de março de 2013

CORNO MANSO



Estou firmemente convencido de que só se
perde a liberdade por culpa da própria fraqueza.
(Mahatma Gandhi)
CORNO MANSO

O corneado é sempre o último a saber. Mas entendo que só o será de facto, se após ter conhecimento da “matéria”, aceita com complacência o capacete de protecção com que foi ilustremente coroado, sem esboçar qualquer reacção de repulsa ou agressividade, puxando a carroça da vida com extrema pacatez e resignação.
Logo pela manhã, depois de se levantar com alguma dificuldade devido ao aumento da queratina cabeçal, mira-se ao espelho e vê nele reflectida uma cara murcha com expressão condescendente, mas repleta de fingida felicidade. É este o verdadeiro corno. O corno-manso. O corno paciente e contente consigo próprio que aceita tudo o que lhe carregam e devora as sobras, se as houver.
Comparo o povo português ao o corno-manso. Depois de tantas vezes copulado, sodomizado, enganado e roubado, tem permitido que toda a espécie a sacanice continue, no o seu andamento uniforme, com total desprezo pelas massas. Não reage. Se reage, é com uma reacção de “cão que ladra não morde”. Aceita todas as agruras que lhe são impostas com uma passividade fora do normal. Ainda que sobrecarregado por sacrifícios que lhe tiram o sono, afectam a saúde, a vida familiar e lhe castram deste modo vivência, ainda arranja alento para mostrar alegria; um júbilo murcho, estúpido e descabido, que com toda a imponência de pobreza de espírito e néscio aparato, se resume ao som de cuicas e pandeiros. Saltam,  riem (ou fingem), mesmo debaixo do toldo negro da crise que ele sabe, o arrasta para o abismo. É esta a postura do verdadeiro corno. O corno-manso! O cornipelas.
Não penso que seja um problema de masoquismo; encaro antes, como um conflito sério no grémio da mentalidade que por razões desconhecidas nos faz conter a vontade de sublevação e amochar com incondicional submissão, colaborando na construção de uma maltrapilha alcatifa humana, por onde passam de peito inchado e com insolente desprezo, umas centenas de milhar de ladrões, aldrabões, corruptos, inábeis, trapaceiros e outras pestes semelhantes, que nós, vergando a coluna vertebral da vontade própria, docilmente permitimos… com esquálido sorriso e extrema resignação.
Somos ou não somos como o corno-manso?...


António Figueiredo e Silva
Coimbra, 09/03/2013
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