segunda-feira, 27 de maio de 2013

ABERRAÇÕES



Tão cegos são os homens, que chegam
a vangloriar-se da sua própria cegueira!"

ABERRAÇÕES


Não tenho nada contra aquilo que outros possam fazer entre si. O que não poderei é estar a favor de reivindicações baseadas em fundamentos doentios e contra todas as linhas concedidas pela Natureza, onde existem parâmetros bem definidos. É de crer que ela também cria aberrações; temos naturalmente que conviver com elas mas não suportar os seus caprichos loucos, ou vergarmo-nos às suas descabidas e doentias exigências.
Com os seus caracoizitos loiros drapejando ao sabor do vento e uma rósea face enfeitada por uns lindos olhos azuis, de feitio um pouco reservado…
- Minha linda menina, como te chamas?
- Catarina – responde calmamente.
- E o teu papá?
- É Joaquim – diz meia cabisbaixa.
- E a tua mãezinha?... Como se chama?
- É o Abel – responde de novo, mas um pouco encabulada.
Ou ainda por outro lado:
- Olá meu lindo menino!... Quem é a tua mãe?
- A Celeste – responde, com um meigo e inocente sorriso de criança.
-  E o teu pai?
- É a Sofia – responde de novo mas um bocado corado.
Por mais paradoxal que possam parecer, situações como esta aqui reproduzida, de cariz fictício, podem tornar-se numa pura realidade, se nós vamos dar crédito àqueles que sem qualquer recato nem consciência do seu estado psicológico, espalham alto e em bom som, a filosofia decorrente da sua anormalidade, exigindo ainda coisas que saem fora do senso comum, para os nossos usos e costumes, e até mesmo para a nossa compreensão.
Eu não consigo compreender, como é que pessoas que se desviam da lógica natural, querem ser considerados como seres de comportamento normal. Atendendo à sua constituição física, é certo que são seres normais e devem ser respeitados como tal, desde que se mantenham no seu mundo e não andem a fazer alarde vergonhoso dos estigmas que têm e a fazer reivindicações cujo fundamento só poderá existir na cabeça dos tolos ou dos mentecaptos e sem terem a noção do ridículo.
Jamais em dia algum se viu um parafuso atarraxar num parafuso, ou duas porcas fazerem o mesmo!? Todos os seres normais sabem que isto é de uma impossibilidade absoluta; aquele que por força da sua endémica vontade o quer conseguir, certamente que não regula mesmo bem da caixa-dos-parafusos.
No que respeita ao ser Humano, a Natureza tem assegurado a sua continuidade Universal através de parâmetros de normalidade com estreita obediência às leis da Criação; se eles falharem como pensamentos anormais o desejariam, a nossa existência seria varrida do planeta, a menos que com o avanço da ciência um filho pudesse vir a ser defecado ou então que o hermafroditismo ou dois corpos animados pela progesterona pudessem gerar alguma coisa.
Para mim, a desfaçatez e a falta de vergonha, não têm poiso nos gravetos da minha compreensão, por mais esforço que eu faça para tentar compreender aquilo que de todo em todo considero incompreensível.
Puta que pariu as manifestações sem nexo. Tenham vergonha na tabuleta. Não gostam daquilo que digo?... Aguentem!... Que eu, aliás todos nós, somos obrigados a aturar a intenção dos vossos desejos desaforados que querem fazer da nossa sociedade uma sociedade promíscua e destituída de valores.
Era um menino bastante descontraído, simpático e falador.
- Olá, meu menino!? Qual é o teu nome?
- André. Andrezito, como me chamam lá em casa.
- E o teu pai como se chama?
- André, também. É meu amigo; até me comprou uns patins e tudo.
- E a tua mãezinha?
- Chama-se Carolina – responde com os olhos grilados e uma expressão de alegria estampada na sua inocente e meiga face de criança.   
Agora vejam as diferenças decorrentes entre a normalidade e a anormalidade doentia, se esta última não ser auto-reconhecida, ou nós estúpida e benevolamente a reconhecermos.
Não há pior moléstia para um saco de batatas do que uma batata podre!...


António Figueiredo e Silva
Coimbra 12/07/2005




sexta-feira, 24 de maio de 2013

EXIBIÇÃO APARVALHADA

“Polidez é inteligência; consequentemente, a
impolidez é parvoíce. Criar inimigos por impolidez,
de maneira desnecessária e caprichosa,
é tão demente como pegar fogo à própria casa.
(Shopenhauer)

EXIBIÇÃO APARVALHADA
(A Democracia tem limites)


O autoconvencimento excessivo tem sempre tendência a ultrapassar os limites da razoabilidade quando não é freado. Considero esta moléstia uma maleita que afecta aqueles a quem presunção embriaga, colocando-os numa condição de tolo e incurável narcisismo. Neste estado crónico e incapacitante, tentam ganhar audiências ao apresentarem-se amortalhados por um falso estado de magnanimidade, a titubear papagueantes opiniões, não deixando contudo de, vezes sem conta, roçarem as orlas da parvoíce, chegando algumas ao desrespeito que, apesar do abuso perante o excesso de condescendêcia da democracia existente, há sempre umas regrazitas para lhes travar a “velocidade no piar”.
Existe muita gentinha que não sabe viver em democracia e o Sr. Miguel de Sousa Tavares faz parte do lote; tem vindo a arriscar-se demais nesse campo promovido pelo estado de direito cá existente, até que lhe chegaram os fagotes ao rabo.
Então este Sr. cuja inteligência e falta de educação (eu já havia reparado) podem ser postas em causa, tem a distinta lata de arrotar através das ondas hertzianas, “Nós já cá temos um palhaço. Chama-se Cavaco Silva”.
O Sr. Sousa Tavares andava mesmo a carecer de um valente aperto no arrocho e um encurtamento na arreata, para servir de exemplo a muitos asinos que, mercê da bajulação de outros tantos ignorantes, julgam-se no patamar dos intocáveis, esfera onde normalmente a parvoíce campeia.
Se a Democracia não for severamente limitada, ai de nós!

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 24/05/2013
www.antoniofigueiredo.pt.vu

terça-feira, 21 de maio de 2013

O PEDRITO



A história (real) inserida assomou-se-me à memória,
por causa da lei para adopção de crianças,
por figuras com pulsões à margem da
normalidade. Eu considero um
paradoxo legal (se vingar).
Cada porca, com seu parafuso.

PEDRITO
(Uma história real e comovente) antilogia


No fim da brincadeira, ele surpreendeu-me e comoveu-me pela meiguice e pelo desejo manifestado nas suas “inocentes” palavras. Um menino de tenra idade, mas com a vida já bastante causticada e certamente a personalidade deformada, pela presumida indiferença dos seus “criadores”. A convicção simples e a ternura com que as pronunciou nunca mais sairão da minha memória e são um testemunho de grande peso, além de muitos outros, que atestam a podridão em que se encontra a nossa sociedade, estigmatizando muitas crianças que nunca virão a encarar com bons olhos o futuro que lhes vai pertencer e a sociedade que as não soube proteger da irresponsabilidade de quem os “cria”.
Cada vez que vou à baixa Conimbricense, disponho sempre um bocadinho do meu tempo para umas brincadeiras com o puto, que por sinal é bastante castiço e conversador. Nota-se a vivacidade no seu olhar, mas quando abstraído nos seus folguêdos, existe um toque de tristeza no semblante da sua face angelical.
Acabei por saber que Isabel, sua mãe, é bastante fria e ostracizadora para com ele. Na sua rude e abandalhada maneira de ser, não lhe dá o “pão” que ele mais necessita para uma vivência sã: o carinho. Ela “trabalha” como polidora de esquinas, subsidiada pelo rendimento mínimo garantido, incentivo do Governo para quem quer poupar o trabalho, e mais alguns proventos de pouca lisura que provavelmente se situam fora das linhas estabelecidas pelos usos e costumes considerados normais, da sociedade em que vivemos.
O Quim, seu pai, (?) que pega de empurrão, não dá ao Pedro qualquer ponta de atenção, até porque saiu de casa há uns tempos largos para abraçar uma nova vida híbrida, onde as massagens rectais são a normalidade do seu viver.
O “padrasto”, que é da mesma laia mas de vícios diferentes, em relação à criança, nem aquece nem arrefece. Com uma indiferença bem marcante, é como se aquela alma pequenina não existisse.
- “Noutro dia bi o Quim na Televisão in Lisboa, com mais muitas pessoas” – confidenciou-me o Pedrito na sua esperta inocência! Disse à minha mãe, olha ali o Quim!... Ela disse que num era, mas eu sei que era!? - Criança sim, mas tolo, não!? 
Indaguei junto da vizinha, a Ti Gertrudes, dona de uma pequena mercearia e algumas moscas, tendo-me ela segredado que o pai do menino tinha ido a uma manifestação de panascas em Lisboa e que realmente apareceu no meio de uma cena reportada pela TV.
Coitada da criança!... -Disse ela em tom piedoso. Com um pai que é assim, um “padrasto” que não presta e uma mãe que vale outro tanto, o que há-de ser desta criança? Não têm juízo. Mandam-nos vir e depois é como se vê?!
Que dureza de carácter e perfeição formativa poderá vir a ter este menino e outros à sua semelhança, metidos em pútridos ambientes como este? Se o solo é ruim, dificilmente dará bons frutos.
Ele andava a brincar com uma bolita. Quando me viu, largou tudo e correu ao meu encontro.
 Acedendo ao seu convite, voltei a ser criança como ele e entrei no jogo, como o gato e o rato. Por ali andamos uns largos minutos, procurando minorar a falta de atenção que lhe era “negada”, até que os compromissos me bateram à porta e eu tive que me despedir daquela agradável criança.
De mansinho, chega-se a mim e diz-me com ternura:
-“Faz de conta que és meu pai”!?...
A surpresa e a comoção foram de tal ordem, que fiquei quedo, atónito e gago!...
“Faz de conta que és meu pai”!!!
Dá que pensar!...


António Figueiredo e Silva
Coimbra 25/03/205

*Este acontecimento passou-se há poucos dias,
 com um amigo meu chamado Paulo, único
 nome verdadeiro nesta história comovente.



quinta-feira, 16 de maio de 2013

EPÍSTOLA



A todos os filhos do meu país; aos
filhos do pai e da mãe, aos filhos
só da mãe ou só do pai, aos filhos de
muitos pais e aos filhos de ninguém.


EPÍSTOLA
(Vómito plangente e sublevado de um velho combatente)


Meu filho.

Estou velho. Sinto-me cansado, deprimido, revoltado e triste.
O cansaço, sei que é próprio da idade e terei que viver com ele até que nos meus vasos deixe de circular o fluído que me alimenta o corpo e anima a alma.
Deprimido porque a inconsciente e raivosa canzoada que se tem aninhado no topo da nossa pirâmide social só tem feito merda, cabendo a mim e a tantos como eu, cumprir sob coação, parte da responsabilidade por actos loucos que não cometi.
Revoltado e triste, porque trabalhei toda a vida para emergir e andar de cabeça levantada nas águas traiçoeiras deste mar de gente, apesar de todas as trafulhices e roubos indecentes e descarados que ao longo da vida me foram fazendo. Isto revolta, meu filho! E de que maneira!?
Agora sinto-me triste, apático e desalentado porque a minha idade já não me permite lutar, se bem que, o carácter de guerreiro que ainda resiste dentro de mim, por vezes mete as garras de fora e penso que “já não tenho nada a perder”, mas, contrariado recuo, porque temo pela tua existência, a qual sei que não te vai ser nada fácil; vai ser uma vivência esclavagista, penosa e aflitiva, onde só os sacanas, os descarados, os ladrões e os vigaristas, se vão safar; se não tiveres engenho para ser mais um entre os outros, prepara-te para o sofrimento. A piedade e a condescendência serão palavras riscadas da face da terra.
Regurgitei no teu espírito o que de melhor pensei saber e sob as mais distintas linhas da vida: científica, ética e moralista. Pela minha experiência e pela dos outros, que me foi transmitida, procurei temperar a tua personalidade para que a sua dureza só pudesse quebrar e nunca torcer, distinguindo-se sempre pela sua verticalidade, ainda que injustamente calúnias viessem cair sobre ti numa tentativa frustrada de te amarfanhar, de te restringir o fôlego até ao último suspiro.
Fiz o que pude para te deixar alguma coisa de palpável, não para que depusesses as armas do trabalho e da honra, porém, para te ajudar a vencer a inércia da vida que no princípio é sempre mordente; é uma subida em que um pequeno ímpeto pode auxiliar muito. Pensei sempre desta maneira e agora que vejo claro no negro, sinto com pesada amargura que algumas das minhas conjecturas me saíram goradas. Tenho a sensação de que no verde campo que há uns anos que tinha pela frente, a relva não foi raspada, mas siderada.
Os propósitos que para sempre trabalhei vão ser para ti uma dor de cabeça com a qual eu não contava. Todo o património que te lego só vai servir par te dar noites mal dormidas, assombradas por pesadelos e pensamentos inquietantes.
Agora que o governo anda a promover a desinfestação contra a “peste grisalha”, eu, não tardará muito, vou ter com a tua mãe que já se encontra do lado de lá há uns anitos; tu, apesar da tua formatura e formação, desempregado ou com uma ocupação que mal dará para o teu sustento, o que te deixei só serve para pagares impostos, que talvez não suportes, infernizando-te ainda mais a vida. Escrituras, Impostos de Selo, Impostos de Transmissão, Impostos Municipais, Impostos de Impostos e outros Impostos que a minha senilidade já não me permite lembrar mas que julgo serem necessários, contudo, poderiam ser mais consensuais e humanamente suportáveis, se não fosse e incapacidade da corja de ladrões e incompetentes que nos tem rodeado. Estas coisas meu filho, não permitem que eu morra em paz.
Já nem sei se aquilo que fiz o deveria ter feito, ou se o que te ensinei não foi colhido no universo do erro onde na penumbra da traição a minha barca da ignorância boiava sem eu saber. Agora talvez tivesse pensado de forma diferente, não sei!?
Não por culpa minha, mas quando “embarcar”, deixo-te um mundo e acima tudo um país, onde a sobrevivência é uma aventura de corsários onde a espada é o dinheiro.
Olha, se não suportares uma vivência condigna, sê como os outros que, mesmo enveredando pelo caminho do erro, da vigarice, da corrupção, da mentira, da falsidade e da vadiagem, são os que se estão a safar.
Tardiamente cheguei à conclusão de que a melhor herança que te posso deixar é a tua liberdade de pensamento e tua opção de escolha, nada mais.
O resto foi em vão. Lamento!

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 16/05/2013
www.antoniofigueiredo.p.vu