terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A LIÇÃO



 Para o ignorante, a velhice é o inverno da vida;
 Para o sábio, é a época da colheita sábia.
(Talmude)

LIÇÃO

 De um pai amargurado, para um filho
 ranhoso e imbecilizado, que despreza os velhos!

Antes de mais quero apresentar-te, meu menino, a Entropia Universal; essa força cósmica, misteriosa, que rege todo o Universo e que, simultaneamente propagando a destruição, dissemina o princípio, dando assim origem à Existência do incomensurável Mundo, como o podes ver e sentir. Esta força universal, não se compadece com nada nem com ninguém e atribui com implacável incondicionalidade um período de vida determinado, que é imposto a toda essa Existência, desde a mais pequena partícula da matéria ao maior planeta ou estrela, progredindo até à mais longínqua galáxia constituinte do Universo que até agora conhecemos; é por isso que há nascer, viver e há morrer – ou simplesmente uma transformação de uma matéria para dar origem outra, de igual equivalência energética, porém em outro estado; e assim, com características dissemelhantes.
É deste modo que isto funciona meu rico menino. Quero lembrar-te também, caso ainda não tenhas percebido - porque eu não conheço os miolos de cada um - que essa força ininteligível “ataca” todos os seres viventes, incluindo o ser humano.
No caso do ser humano, que podemos presumir como uma entidade pensante, enquanto dura a sua existência ele deve cumprir o seu papel, no trajecto que medeia entre a vida e a morte, com base nas tradições, na prática e no conhecimento, amealhados no decurso de milhares de anos e que têm vindo a ser transmitidos ao longo de gerações, pelos da barba russa e cabelos grisalhos, - “de quem tu tanto gostas” - àqueles quem ainda por cá ficam, como tu, inteligente ou estupidamente, a cumprir os desígnios dessa entropia.
Para isso existem as normas educativas e regulamentares instituídas pelas e para as criaturas da família humana se poderem orientar em comunidade com ordem, através de uma filosofia delas emanada; se assim não fosse, vê lá como que seria isto… E mesmo assim!? É nesta filosofia normativa, que assenta a formação cívica, que se rege pelos princípios da ética e da moral a estabelecer entre os indivíduos para uma vivência conciliadora; é pena que alguns merdosos acéfalos, incompatibilizem esta sucessão unificadora.
Muitos deles, como tu, meu filho, são uns verdadeiros palermas e estúpidos, bafejados pela sorte e não pelo saber, que para atingirem os objectivos cegamente interiorizados, são capazes de triturar tudo o que lhes possa parecer obstáculo à sua ambição, e, sem olhar a meios para os consumar, fazem-no e estão-se cagando para o resto da “manada”. É precisamente por isso, que nascem motins, agressões, greves, palavras de indignação, e muitas vezes situações em que os casos são letais.
- Então olha lá. Que razão de queixa tens tu contra os velhos? Já reparaste que se a sorte não te bater à porta, em pouco tempo lá chegarás, meu grande macambúzio?
 Estou velho, meu piolhoso! Mas limpo de corpo e alma e, esquelética e intelectualmente com razoável funcionalidade - o resto, foi-se, sem ficar a dever nada aos prazeres da carne neste mundo. Vivi sempre a minha vida com modéstia e de cabeça levantada, sem ninguém atrás de mim a puxar-me pelo casaco; não nasci num berço de ouro e comi pão que o diabo amassou; brinquei, saltei, corri alegremente por entre pampilros e milheirais; dancei, bebi, fumei (não charro) diverti-me à grande, mas sempre dentro de uma linha educacional dura - o meu falecido pai não era para brincadeiras – em que me era imposto o respeito por toda a gente e principalmente pelas crianças, velhos, pobres e pelos professores, tatuagens que ainda hoje mantenho gravadas no meu ser e que tenciono mantê-las, até estar retesado no esquife, para tristeza de muitos e certamente de descomunal exultação para ti. Mas olha…
- Cheguei a este estado, contudo resta-me um refrigério de que a minha família (a ti já nem te considero com tal) certamente se orgulhará; cheguei aqui de cabeça erguida e cara lavada.
- Olha meu rapaz! Meu cabeça-dura, é bem possível que durante a tua vivência, por tudo o que tens manifestado, nunca ninguém te tivesse ensinado o que devias aprender ou então, não aprendeste o que devias saber. Também certamente que nunca tiveste ninguém que tivesse para ti uma prosa tão frontal. Mas, não te vás… Anda cá, que ainda tenho algo para dizer-te, porque, apesar de seres relativamente novato, quer-me parecer que já deves andar com a focinheira bastante conspurcada, por isso, observa o bem o que te digo: a vida é curta!
- Olha, eu já cá estou! Tu, se cá chegares, ainda demorarás algum tempo – provavelmente eu já cá não estarei - para no fim, quando te ao te mirares ao espelho, deparares à tua frente com um velho grisalho, ranhoso, e cheio de mazelas e com uma que, acima de todas, é a pior; sem caráctera semente que sempre cultivaste em novo.
- Mas um dia, num assomo último de remanescente, porém tardia sensatez, dirás em introvertido solilóquio, é triste!
Mas já não podes recuar. A ENTROPIA NÃO VAI DEIXAR.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 1/12/2013
www.antoniofigueiredo.pt.vu














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