segunda-feira, 28 de julho de 2014

CALOU-SE UMA GUITARRA DE COIMBRA



CALOU-SE UMA GUITARRA DE COIMBRA…


Porque a força anímica que alimentava os dedos que com suavidade, mestria e sentimento lhe imprimiam o dolente trinar do seu cordame, abandonou-os para todo o sempre. Quis o destino que assim fosse!
*Águas das fontes calai (…)
Pelo inverno desafortunado da vida, com a qual a Natureza não se compadece e continua impávida no seguimento do seu perpétuo movimento, arrefeceu o corpo de um dos grandes guitarristas e compositores do Fado de Coimbra: Francisco Martins.
Foi Homem, médico, músico e acima de tudo, grande amigo do seu amigo; um exímio e conversador, apreciador moderado de boas petisqueiras, alegre, de porte cavalheiresco e respeitador.
Foi-se! Contudo, deixou vasta cunhagem de obras, com especial relevo na interpretação musical para a “Canção da Primavera” (poema de Carlos Carranca), que o imortalizará eternamente perante os seus amigos que ainda por cá vagueiam; será também um tributo à cidade Coimbra, à sua Universidade e para os vindouros, uma valorosa lição de que a vida não acaba aqui; assim nós queiramos.
Esta é a homenagem que desejo prestar ao meu “finado” amigo, até que o futuro nos faça encontrar.
*(…) Ó ribeiras chorai que eu não volto a cantar (…)

*Da letra de : Zeca Afonso.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 27/07/2014
http://antoniofsilva.blogspot.pt     
 “Crónicas de um crónico”


  


segunda-feira, 7 de julho de 2014

FATALIDADE E SOLIDARIZAÇÃO



Incêndio em Loureiro, concelho de Oliveira de
Azeméis, deixa família economicamente debilitada.

FATALIDADE E SOLIDARIZAÇÃO
Quando menos esperamos, o infortúnio, que na maior parte das vezes pensamos que só acontece aos outros, desprende-se dessa lógica e cai-nos e cima, soterrando praticamente tudo aquilo que com esforço e perseverança levámos muito tempo a edificar. É de facto aterrador, assistirmos inertes ao desmembramento da concretização material de tudo aquilo para que havíamos sonhado e exaustivamente trabalhado para o ter conseguido; porém, o azar não se compadece com ninguém, nem conhece caras ou corações e acompanha paralelamente a ventura. Esta é uma das realidades que, com a mira apontada, faz parte das nossas vidas e por muito que façamos para contrariar os seus efeitos, quando o azar tiver que dar os seus frutos, dá-os sem pedir licença a ninguém.
Como única hipótese, resta-nos ter coragem para reconstruir aquilo que desabou, o que por vezes se torna, não digo impossível, contudo dificílimo, sem um generoso empurrão da solidariedade, que é um dever social. É precisamente aqui que a sociedade se deve mobilizar para ajudar as vítimas do “naufrágio quando o barco se desmantela”.
Neste sentido, penso que a maneira, não quero dizer mais correta ou mais limpa, - nada disso – todavia a mais própria, seria abrir uma conta bancária em nome das pessoas desafortunadas, onde todas as criaturas de boa-fé pudessem, no seu secretismo e com a mais alta limpidez, outorgar a sua ajuda, mediante as suas posses ou a sua vontade, sem ferir a susceptibilidade daqueles a quem o infortúnio tocou.
Não há receptores de envelopes com dinheiro, com cheques, sem cheques, com papel de jornal ou vazios; nem qualquer outro meio a não ser a conta bancária e ponto final.
Claro está que, para que a solidariedade possa surtir melhores efeitos, são sempre necessárias umas palavras de ajuda daqueles que se supõe terem mais alguma influência no “burgo”, e, no nosso meio, um dos maiores poderes nesse sentido, sem sombra de dúvida é a mão eclesiástica, através das suas prédicas, no momento oportuno e no local próprios.
Penso, desta ideia não abdicando, que assim deve ser.
Sendo o auxílio indispensável, também é fundamental um meio de evitar o constrangimento e não só, de quem recebe a ajuda, porque isso pode originar “chagas” psicológicas para o resto da sua vivência.
Uma conta bancária aberta em nome de quem dela necessita tende a ser, em minha opinião, o meio mais apropriado para o efeito.
Uma maneira airosa de aplicar a solidariedade despretenciosamente, no” combate” à adversidade alheia.
Neste sentido e para além do que muito ainda poderia dizer, esta crónica é também um apelo às pessoas de boa índole e também aquelas aonde possa existir uma réstia de boa vontade, para que prestem o seu auxílio no “combate” à desventura.
Nunca se sabemos quando a roda pode desandar.

António Figueiredo e Silva
Loureiro, 06/07/2014
http://antoniofsilva.blogspot.pt
        

quinta-feira, 3 de julho de 2014

MEU FILHO, ESCOLHE



MEU FILHO, ESCOLHE

Se és capaz de conservar uma calma aparente onde a manigância impera e tu és o maior manhoso;
Se sentes insegurança em ti, mas consegues “convencer” os outros do contrário, mesmo que tenhas de usar de retaliação para o efeito;

 Se aparentas possuir uma calma infinita quando a ebulição invade o teu interior e consegues manter a tua “teimosia” com palavras submissas e adocicadas, mas oriundas dum senso avinagrado;

 Se és capaz de transformar os teus objectivos num vício entranhado e és capaz de esmagar tudo para o conseguires satisfazer;

 Se és capaz de exultar com entusiasmo um sucesso imerecido e disfarçar com um sorriso o constrangimento aflitivo de um fracasso quando ele se te depara, mas haveres em conta a sua diferença; 
  
 Se é capaz de aguentar para ti mesmo a verdade das mentiras que poderás dizer e desviar a atenção das promessas que não vais cumprir;

 Se por falta de capacidade própria sentires que não és capaz de reconstruir o teu ideal se ele se vier esboroar perante o teu olhar atónito de incapacidade;

Se te sentes apto para falar às massas, conjuntos vocabulares engraçados porém desprovidos de conteúdo, mas de que elas gostam e ingenuamente te aplaudem por isso;

 Se te sentes com capacidade de imprimir a ti próprio uma importância que sabes ser falsa e que de todo não a mereces;

 Se ao pobre e ao rico separadamente consegues dar razão e do choque entre ambos tiras partido, mas manténs sempre acesa a chama do oportunismo materialista;

 Se perspectivas que o que “fabricares” possa não ser assertivo ou benéfico para os outros, mas não desejas ser responsabilizado pelo que possas ter feito
;
Se podes moldar a fraqueza do teu carácter e orientá-la ao sabor do vento, sem qualquer sentimento de culpa;


Então envereda pelo caminho sinusoidal da política;

A meu ver, para ti, é o meio mais fácil de “singrar”, ainda que imbuído num puritanismo simulado, que, quando derem conta, já será tarde;

Esse percurso vai outorgar-te parte daquilo que a tua insaciável e atormentada ambição te reclama;

 Serás um intocável, rodeado de falsos amigos e salafrários, que se juntam à tua volta para bajular-te e a bater palmas às tuas baboseiras, enquanto houver comida na gamela que a todos encha o bandulho. 

Mas, no fim, acabarás por não ser nada! Porque…

Meu filho, nunca serás um HOMEM DIGNO ao cimo da terra!

E quando as mentes acordarem e se sublevarem, poderás vir a ter a fatídica oportunidade de sentir “cabeça desprender-se do teu corpo e rolar no cadafalso” enquanto o sangue espirra, e, na última fracção de segundo que te resta, teres a derradeira cogitação: onde estão os que me lisonjeavam e apadrinhavam? Filhos da.......!

Agora, escolhe.


Coimbra, 03/07/2014
http//.antoniofsilva.blogspot.pt
www.antoniofigueiredo.pt




terça-feira, 1 de julho de 2014

A MINHA TERRA



 A MINHA TERRA


Localiza-se na orla de numa zona geográfica ribeirinha, daí a sua planura.
Esta terra ainda hoje mantém vestígios da cultura mourisca, apesar da abrasividade do tempo lhe haver lambido parte do passado. Pode ver-se, pelas suas casas antigas, que apesar de já não serem muitas, ainda são algumas, comumente têm um recinto (pátio ou quinteiro) aconchegado e resguardado da curiosidade de quem passa; a esta chancela se devendo alguma da cultura sarracena.
  
Era eu uma criança e a minha memória não estava carcomida pela idade, quando gravei momentos, alguns dos quais ainda hoje me recordo; aquelas velhinhas veladas, de lenço preto pela cabeça e velando a face, seguro sobre a ponta do nariz e encimado por um chapéu de veludo negro azeviche com umas penas pretas e umas bolinhas de vidro da mesma cor a adornar o centro circular do seu feitio.

Ainda usavam uma cinta de avantajado comprimento, com a qual atavam a saia, construindo, abaixo da barriga, uma espécie de regueifa - era a moda de então; também não me esqueceu do hábito ou vício, que algumas delas tinham de inalar rapé, justificando todo o ritual e o acto em si, com o facto do gozo que sentiam em espirrar – até hoje ainda não percebi bem porquê. Na altura contavam-me que a moda tinha vindo do Brasil, o que ainda agora acredito, uma vez que, da minha terra houve bastante emigração para as terras de Vera Cruz, onde alguns singraram e outros por lá ficaram amortalhados na enxerga da miséria, capitulando ao apodrecimento corpóreo e ao esquecimento eterno. 

O que outrora foi uma região agrícola de sobrevivência, causa principal da emigração, pode actualmente considerar-se um espaço subsistência – a actual crise, mais não consente; predomina presentemente a agro-pecuária e alguma indústria, que possibilita uma quase cabal ocupação para todos os que desejam trabalhar; para não fugir à regra, também lá existem “meia dúzia” polidores-de-esquinas, alguns deles subsidiados pelo estado, uma maneira airosa e “inteligente” de incentivar à produtividade zero, paga pelo contribuinte.

A banda filarmónica fundada há cento e quinze anos, que ainda hoje se mantém firme, sustentada pela carolice e orgulho das pessoas que dela fazem parte, é por assim dizer, um ex libris concernente ao historial da minha terra. Para falar sobre ela (banda), aqui já a música é outra, porque não percebo nada de harmonia, limitando-me apenas a comentar que, por tudo o que me tem chegado aos ouvidos, é uma banda bastante conceituada e já com sólida reputação.

A terra onde nasci tem condições para uma óptima vivência, porém, neste aspecto há qualquer coisa que não tem operado devidamente, mas espero que “um dia” os escolhidos se ajustem às realidades prementes solicitadas pela população mais desfavorecida. A meu ver, e não só, a autarquia vigente não tem aplicado a imparcialidade justa e devida a todo este cantinho com a área aproximada de 17km2.

Torna-se incomodativo, contudo necessário, dizê-lo:
“A humildade fingida venceu a arrogância sincera”.

A minha terra é Loureiro, uma freguesia pertencente ao conselho de Oliveira de Azeméis, distrito de Aveiro.

Muito mais haveria para contar mas… Ficará para uma próxima.


António Figueiredo e Silva
30/06/2014
www.antoniofigueiredo.pt.vu