terça-feira, 14 de outubro de 2014

A DIFERENÇA



Os aduladores são a
pior espécie de inimigos
(Tácito)

Para eles próprios,
e para a toda civilização.
(A.Figueiredo)





A DIFERENÇA
(TER E SER)


Por norma, ainda que erradamente, quem tem é; quem não tem, é “zero”.
Até agora ainda não consegui compreender a razão pela qual, uma pessoa de posses, ainda que seja um grande carneiro, - os carneiros que me desculpem - é considerada quase sempre, uma pessoa de bem. Será que a virtude não é mais forte que os haveres? Tornar-se-á necessário, pelos critérios perfilhados pela cultura em que estamos encaixados, possuir algo no sentido material, para se ser uma pessoa de bem?
É precisamente aqui que se instalam as minhas interrogações entre o ter e o ser, e o ser e não ter; uma vez que uma coisa não tem necessariamente que completar ou obrigar à outra, se bem que, para as nossas regras colectivas, enrijecidas pela subserviência e por uma péssima formação racional, por norma tomam o ter e ser, como regra absoluta.
Ora, esta maneira de examinar os factos, não pode obedecer a uma realidade fiável, porque, como podemos comprovar no nosso dia-a-dia, uma infinidade de pessoas existe que, despojados de haveres, são figuras de modo virtuoso, com qualidades enquadradas nos princípios da ética e da moral; seres puros e desinteressados com os quais a comunidade pode contar sem quaisquer prestações de alcavalas.
Do outro lado, nas escarpas da minoria, é clara a existência dos “senhores”, detentores da parte materialista, que, independentemente da sua craveira racional, sendo íntegros ou não, são sempre conotados como pessoas de bem.
É contra o benefício desta diferenciação, procedente de uma enraizada cegueira colectiva que afecta a nossa cultura, que eu me dei ao trabalho de escrevinhar este retalho de prosa, no sentido de ajudar desmembrar a barreira que separa o sentimento de subserviência, do amen, do da realidade e da coragem, para repor os valores onde são devidos. Para dizer que penso, não é verdade; estou mesmo convencido, pelos acontecimentos que pela frente se me deparam, que há muito burro, muito desonesto, muito “padrinho”, muito sacana, muito aldrabão, muita pessoa sem escrúpulos, consideradas pessoas de bem; pelo menos, pela frente, porque, nas traseiras, a realidade vem à tona – o que está mal. É nosso dever sermos frontais e chapar-lhes no focinho o que pensamos delas. Aliviamos, e damos-lhes a oportunidade de defesa, pois podemos estar errados.  
Porque é que filho de cavalo há-de ser cavalo, se vemos tanta mula à solta?
Não, por estes princípios não enveredo; prefiro ajuizar as pessoas pelo que são, e não pelo que de material possam ter.
Nenhuma correlação existe entre o ter e o ser.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 09/10/2014
www.antoniofsilva.blospot.com


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