quarta-feira, 25 de março de 2015

PERTURBAÇÃO "COLECTIVA"



Se tu não consegues entender o meu silêncio,
de nada irão adiantar as palavras;
pois é no silêncio das minhas palavras
que estão os meus maiores sentimentos.

PERTURBAÇÃO “COLECTIVA”
(Dissertação)

"A expressão de ouvir o silêncio".
Sempre existiu no Mundo a perturbação de valores em todas as épocas e lugares; só que, esta crise tem vindo a avolumar-se perigosamente, afectando o estado comportamental das pessoas, alterando a sua maneira de reflectir e de actuar. Elas perdem a sua vontade própria com a desfiguração da sua conjuntura ética, que muitas vezes as leva a um desprezo por si próprias e até pelos seus semelhantes, onde podem encontrar-se envolvidos também os seus ideais afectivos; daí, podem resultar fragmentações, cujas consequências têm grandes possibilidades de atingir um estado catastrófico, com consequências pouco desejáveis que podem ter resultados nocivos para elas próprias e não só; também para quem as rodeia.
As pessoas vivem uma vida assediada de forte prensagem psicológica, e, em muitos casos, não conseguem atenuar a pressão a que estão submetidas, implicando que esta condição de cansaço, mercê de um pequeno empurrão, as faça vacilar pelo caminho incerto e subtilmente são auto-coagindas a “entender” que é a via mais certa, quando no seu ego a sensação é sobejamente contraditória. Sem darem por isso, enveredam por decisões que, ainda que tomadas de livre vontade, são imanentes de uma vontade própria minada por um egoísmo doentio.
Existe aqui uma conturbação psicológica que na maior parte das vezes, nem as pessoas “infectadas” conseguem explicar. As que tentam o “sucesso de conseguir”, apenas consertam com inteligente argumentação, um estado de espírito que elas próprias sabem não estar cabalmente dentro dos fundamentos, ainda que com extrema habilidade manejados, cuja denúncia interiormente sentida é estampada na sua expressão facial e outros atributos pertencentes à linguagem gestual, que eu teimo em considerar serem os reflexos da alma.
Consagrei muito tempo da minha existência à observação do ser humano, prática e teoricamente; obtive conclusões dissemelhantes que hoje, quando analiso alguém, friamente confrontando as palavras com os factos, concluo que a minha margem de equívoco, apesar de não ser absoluta, tem sido desdenhável.
O acentuado disfarce usado por grande parte das pessoas da comunidade em que vivemos, para empalmar as suas “desordens” interiores é uma circunstância que sobejamente todos sabemos.
Aprendi mais a ouvir com mais atenção o silêncio das pessoas, do que o que elas verbalmente expõem; o barulho do silêncio no meio das palavras é mais ensurdecedor, quando as palavras não têm eco e atravessam os tímpanos sem os fazer vibrar.
O que estou para aqui a versar não é para ser entendido como se eu me esteja a referir ao silêncio no seu absoluto contexto!? Não… é àquele silêncio que envolve as palavras com que nos querem fazer de néscios, e que nós, por delicadeza ou com a intenção de ajudar, fingimos acreditar – mas isto não só é necessário, como conveniente; é também àquele silêncio que fica pelo meio de uma articulação sonora cuja rudeza e conteúdo são meras sobras de deitar fora.
Devemos por isso de ter muita atenção ao silêncio que com alguma parte vocabular entremeada nos mostra ao que chegou a perturbação colectiva da actual sociedade, e, vezes sem fim, leva as pessoas a construírem o que não devem, mesmo quando o seu ego fala mais alto.
E, para quem padece desta obsessão, que tenha sempre em mente que poderá existir uma factura a pagar: o sentimento de culpa, mais conhecido por remorso, é difícil de transportar pelo resto da vida naqueles que lutaram contra o seu “eu”, quando “autorizaram” que a desordem se tivesse instalado no seu ser, minando e destruindo a sua vontade própria.
Por isso assevero: a perturbação “colectiva” é um facto e não uma falácia.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 24/03/2015
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