segunda-feira, 25 de maio de 2015

O REDENTOR



O REDENTOR


Perante a veia sebastianista que envolve o caco de muitos portugueses, um acontecimento destes, já não era sem tempo! Aleluia, Aleluia!
Sem auréola, todavia assistido de messiânica partitura, está apostado em triturar até ao tutano, tudo o que de mau existe em Portugal. Aí temos efémera a figura desejada. 
É destes homens de betão amado que os portugueses estão a precisar para recuperarem a sua soberania, há muitos, muitos anos, espezinhada!
Ou muito me engano, que será o mais natural, ou a pessoa que existe empacotada nesta figura, vai ser por certo o salvador da nação portuguesa, que no momento actual se encontra embrulhada numa manta de trapos onde aparenta não haver fio que não tenha sido contaminado pela podriqueira.
Para isso, esta heróica figura já se apresenta disponível para alinhar, quer à esquerda, quer à direita, quer ao meio, com qualquer partido pulítico, no sentido de “auxiliar” a outorgar aos portugueses os privilégios devidos, mantendo os existentes, que andam a boiar entre a pobreza miserável e o novo-riquismo fraudulento. É este lutador, amarantino de gema, que, apetrechado de um pesado malho linguístico e de veia legitimamente populista, vai demolir todos os pardieiros e palacetes onde as ratazanas abundam e a bom rilhar nos vêm dando cabo das côdeas; sejam elas de colarinho branco ou de seboso cachecol cinzento, nenhuma escapará ao corte das suas cordas vocais, que vibram através de turbulenta ventania fornecida por uma ampla caixa torácica, em afinadíssimo e catequizador diapasão.
Está cá com uma embalagem que força alguma o fará parar; estou crente de que ela parará por si… quando vir que o pomar político que plantou, enfezou e acabou por apodrecer por tanta água ter sido sobre ele derramada.
Sempre gostei muito de o ouvir, se bem que agora seja obrigado a reconhecer que a ladainha é outra e eu, por enquanto, não quero adormecer.
Ai, mas que isto vai ao rêgo, vai! Ou ele não se chame, António Marinho e Pinto… bolas!!!

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 25/05/2015
“CRÓNICAS DE UM CRÓNICO”   

quinta-feira, 7 de maio de 2015

"O PAINEL"


 
“O PAINEL”
(Café e Pastelaria)


Foi naquele cantinho modesto, situado na Rua Lourenço Almeida Azevedo, no número 80, Coimbra, que durante vinte nove anos diluí parte da minha juvenilidade, mas que na alma do tempo ficaram esculpidas com cinzéis de saudade, soberbos episódios dignos de narrativa.
Quem sobe da Praça da República em direcção à Cruz de Celas, é o primeiro espaço de cafetaria que encontramos, logo a seguir à bifurcação da artéria Pedro Monteiro.
Por aquele pequeno espaço, oficialmente baptizado de “Café Imperial”, na Conservatória do Registo Comercial e que pela sua pequenez, vim a saber, chamavam de “O Piolho”, passaram por lá, grandes crânios da nossa elite científica, como Fernandes Martins, reconhecido mundialmente como um cérebro em Geográficas, *Sílvio Lima, exímio professor Letras e um pedagogo excepcional, Castanheira Neves, grande professor de direito, Orlando de Carvalho, o terror de Direitos Reais da Universidade desta cidade, José Fernando Queirós, conhecidíssimo e competente professor de filosofia, Nascimento Costa, professor de Medicina e que foi director dos HUC, Francisco Louçã, economista de renome e coordenador do Bloco de Esquerda, Fernando Rosas, professor catedrático de história, Ana Drago, socióloga, José Manuel Romãozinho, também professor de Medicina, Rocha Alves que foi director do IPO de Coimbra, Francisco Martins, radiologista grande tocador de guitarra Coimbrã e criador da “Canção de Coimbra”, Joaquim Valente de Pinho, Juiz desembargador, Mouraz Lopes, hoje Juiz Conselheiro, e outras figuras de relevo nacional e mundial, como, que me recorde de momento, José Firmino Morais Soares, maestro/compositor e um dos fundadores do Conservatório de Música da Coimbra, Alexander Kovachec, proeminente professor de matemática desta cidade e José Ramos-Horta, actualmente presidente de Timor Leste.
Muitas figuras de relevo por ali passaram que, envolvidas no seu porte natural e distraídas com as suas tertúlias, nunca sonharam que vinham a ser observadas, sem intuito pidesco mas com curiosidade, por alguém que era, EU.  
Além destes, outros miolos menos afortunados que aqui não vou nomear por uma questão de moderação, mas que graças à esperteza e cabulanço concluíram os cursos a que se propuseram, e hoje, mesmo com grandes cavaladas cometidas na sua vida “profissional”, alguns deles até se estão governando; e de que maneira!
É de assinalar ainda que também por lá passaram calaceiros, burros imbecis e cavalgaduras, que mais não fizeram do que esbanjar dinheiro aos pais cuja cegueira os tolhia, e acabaram vazios no seu todo, carregando consigo uma mente espalmada à Dux Veteranorum, que não lhes serviu de coisa alguma na vida.
No compasso temporal de 71 anos, cuja velhice é certificada pelo Alvará nº 2, assinado pelo Dr. José Alberto Sá de Oliveira, na altura presidente da Câmara Municipal de Coimbra, por lá passaram pessoas de todos os estratos sociais.
A pequena área a que este estabelecimento se restringe, sempre respirou a essência de um espaço familiar, visco solidificador de amizades duradouras que o tempo não derruba, como até hoje tem vindo a suceder. Ali não se notavam diferenciações, mas respeito mútuo, onde em grande harmonia social se esgrimiam sem altercações dos mais diversos temas científicos às matérias mais corriqueiras do nosso cotidiano, que, sob a sensibilidade do ouvido mais atento, poderiam servir para encher o odre da curiosidade, mitigar a sede de erudição ou servir de orientação para a clivagem necessária à vivência social.
Na verdade, este sítio, aparafusado entre a Praça da República e a Cruz de Celas, serviu de sala de estudo a muitos e de entrosamento namorisqueiro a outros que acabaram por casar e agora aparecem orgulhosamente com os filhos formados, ou a trazê-los para a universidade, na esperança de outorgar-lhes um futuro mais promissor.
Este Café é um ícone repleto de história, que merce ser rememorado, divulgado e visitado, por todos quantos queiram conhecer um cantinho patusco, que indubitavelmente pertence ao fantástico historial Conimbricense.

António Figueiredo e Silva
Coimbra 27/0472015

“CRÓNICAS DE UM CRÓNICO”   

*Este Sr. foi ilibado por António Salazar, de dar aulas em todo o território português, vindo a ser reabilitado alguns anos depois do 25 de Abril; em causa esteve um livro por ele escrito, “O Amor Místico” – do qual tenho um exemplar que me ofereceu -  que mais não era do que um ataque ao então Cardeal Cerejeira.