sexta-feira, 17 de julho de 2015

VELHO DE PÉ-PESADO



VELHO DE “PÉ-PESADO”
(Historietas da vida)

É ELE!?
Eu conheço-o. É uma linda bisca! De estatura média mas de sólida construção arcaica, bem-parecido – apreciações públicas – e lúzios azúis; na bouça do cocuruto, onde antes havia cabelo loiro, restam presentemente meia dúzia de pêlos sobreviventes à calvície que não deixa de alastrar, de modo a ceder o lugar a um minúsculo heliporto; foi premiado com três enfartes do miocárdio, provavelmente decorrentes da desregrada fartura que atravessou, e é dono e senhor de meia dúzia de artroses que, ao roçarem entre si, perdem a cabeça e doem p´ra burro, fazendo ele também perder o tino; já não bate bem da tinêta, porque expõe realidades factuais que muita gentalha – gentalha… repito - não gosta de ouvir, mas lá vai andando; apesar da sua “tenra” idade, setenta e dois anos, estou convencido que a senilidade ainda não lhe inquinou a capacidade psicanalítica.
Tenho-o como uma pessoa honesta, de bom fundo moral, porém agressivamente quezilento quando julga a razão do seu lado, o que provavelmente nem sempre acontece, ou quando “abutres depenados” tentam invadir a sua ninhada; é apologista do diálogo onde a altercação não tenha assento à roda da távola; tem bastante apreço pela honradez e pela palavra, seus breviários de meditação preferidos. Aprecia contribuir com dois dedos de palratório, desde que este não seja constituído por conversunca de deitar fora, onde nada se aprenda e outro tanto se ensina - p´ra esse fim, estão as conversas das telenovelas, as queridas manhãs, o preço certo, a vida nas cartas, a tarde é sua, você na tv etc. há muita porcaria para encher o espaço entre as têmporas nas cabeças ôcas.
Sempre procurou, dentro das possibilidades entre a sensatez e o erro, observar os regulamentos instituídos e evitar desta forma pôr o pé em ramo verde.
Mas, esta do pé-pesado tem algo que se lhe diga! Pelo menos para desanuviar.
O velho – devia ser sénior, hoje hipocritamente é mais chique – que vive em Coimbra, mas por azar de quem morreu e por sorte de ter tido uns tostões, tem uma casa em Vidago (mais propriamente numa aldeia de nome Vila Verde), para onde todos os anos se desloca numa “peregrinação” afectiva, porque gostava de quem lá morou e gosta das pessoas lá do “burgo”, cuja afabilidade, é aquela com carimbo genuinamente transmontano.
Numa dessas deslocações e sem saber que o azar o aguardava de regresso para Coimbra, numa recta, com melhor pavimento do que o autódromo de Estoril, (recta de Vila Pouca de Aguiar), porque tinha recebido um telefonema a comunicar que uma das filhas estava doente, a sua preocupação fê-lo abster-se dos seus deveres e carregou mais um “bocado” no prego; mesmo ao fundo da recta, onde nem casario havia, ao passar, notou à frente, à sua esquerda, um flash, e, desconfiando que ali havia “passarinho no capinzal”, comentou para a esposa, “ou sou uma pessoa muito importante para me tirarem fotografia, ou já estou f… “isso não foi nada filho (da mãe e do pai, que sabe quem foram), se calhar foi ilusão tua. Não, filhinha, como ainda tenho o rescaldo aeronáutico entranhado no sangue, às tantas vinha a voar e não dei por isso”; é natural…
Passados uns bons kilhómetros (à madeirense), aguardavam o velhote, duas simpáticas e atenciosas figuras, bem uniformizadas, - que deus os mantenha vivos por muitos anos e que nunca sejam apanhados por um radar detector de flight speed, no gozo dos últimos dias das suas vidas – fizeram um mesura continencial – até se sentiu como um general - e descarregaram ladainha costumeira que todos conhecem de ginjeira. Com calma e um sorriso, “o Sr. sabe a que velocidade viajava”?... e blá, blá, blá.
Ah… amigalhaços, por consideração, ainda fizeram um desconto ao velho, de 6km - boa vontade e a honra lhes seja feita. Afinal só voava a 102 km, quando devia vir a 50km, a velocidade de vôo dos carrinhos de choque. Por fim apresentaram ao artrítico condutor uma conta – mínima – de trezentos euros, acrescentando com extrema simpatia e benevolente linguagem corporal, que até podia pagar em prestações, se assim o desejasse.
O velhote, que por acaso não se chamava Mário Soares, tinha uns troquitos enlatados num banco que ainda não foi à falência e pagou logo, não fosse o Diabo tecê-las e ele ser atirado às pulgas; porque o Estado a ele não pagava – já é bom se o governo aguentar com o que chupam os salteadores e lhe for pagando a reformita.
Com mais peso do que era suposto, porque lhe deram um recibo para transportar, rilhando os dentes e mudando de côr, cujo cromatismo variava entre o amarelo limão e o vermelho tinto DOC alentejano, rumou para Coimbra, sem incidentes nem acidentes - valeu-lhe S. Cristóvão – não se esquecendo contudo de que haveria uma pena acessória a pagar ou cumprir, e que não haveria santo que lhe valesse.
O tempo foi passando… como é costume, a justiça também repleta de artroses e claudicante, não tem pressa e a coisa foi diluindo no esquecimento e…
Passado quase um ano o “jovem velho” recebe uma carta com aviso de recepção com tanta complicação escrita, que mais parecia um dos escritos do Mar Morto, só para no notificar “V Exa no sentido de que tinha sido CONDENADO a uma pena acessória de trinta dias em “jejum” sem guiar o calhambeque – pi, pi! Antes isso do que passar sede ou fome, não é? – sendo compelido por isso a “proteger” o seu certificado de “pilotgem” em lugar de confiança, e sugeriram-lhe a GNR, (…).
Bem, o certo é que o “jovem” lá vai ambulando; umas vezes dando corda aos sapatos, outras de BUS – linguagem mais fina – ou ainda de charrete. Ele preferia antes um burreco, porque a palha fica mais barata, mas diz que, ao que consta, fugiram todos para a capital.
Agora vejam o que sucedeu ao velho com o pé-pesado e tenham juizinho - que ele não teve - na caixa dos pirolitos, para não vos acontecer o mesmo. E não se esqueçam: a polícia não é má – tirando alguns - apenas cumpre a missão que por lei lhe é destinada - nem sempre, mas está bem.
Olhem que isto foi verdade, eu conheço bem o velhote e ele não costuma mentir - a não ser por conveniência!?
Esse “jovem velho” sou EU.

Coimbra, 16/07/2015

 Obs. aos leitores: desculpem alguns erros,
mas, com o novo acordo ortográfico
 passei a burro.
 

      



  
     

quarta-feira, 15 de julho de 2015

"SUINICULTURA NACIONAL"



“SUINICULTURA NACIONAL”
(O “cardápio” é grande!)



Partindo do princípio de que “não há vara sem porcos nem porcos sem vara”, podemos concluir que, para que exista uma coisa, por força da lógica, tem de existir a outra; ou seja o complexo “bando” da complementaridade.
Se conseguirmos cindir essa complementaridade, a “caterva” desintegrar-se-á, não sem antes deixar o seu rasto na *câmara de Wilson da nossa investigação; é precisamente através dessa esteira em que tudo é contabilizado ao “cêntimo”, que podemos chegar a desfechos cromados de descaramento sem limites, deveras marcantes, assustadores e passíveis de dura punição, doa a quem doer.
É realmente um enorme aborrecimento quando se começa a desenriçar os fios ensarilhados de uma meada que por azar ou por sorte se desfez e que serviu, durante muitos anos, de enxerga a muitos bácoros sedentos de fortuna fácil, sem olhar a meios para atingir os fins. Temos a noção de que é uma trama difícil de desconchavar, contudo não devemos pôr de lado a ideia de que um dia aparecerá alguém com capacidade e coragem, pragmatismo decisório e paciência, consiga meter as guitas no seu devido lugar, dê para onde der.
 O cortelho há muito tempo que entrou em sobressaltado burburinho porque, apareceu essa figura couraçada com forte nobreza de carácter, onde a corrosão ainda não penetrou e começou a rachar a direito. Francamente, isto não podia continuar assim.
A corrupção por apadrinhamentos e jogos de interesse à mistura conseguiu, durante longo tempo, devorar a ética e a imparcialidade, bases fundamentais da estrutura legislativa; podíamos sentir que a aplicação dos regulamentos não era igual para todos; mesmo presentemente, com todo o lamaçal fedorento existente no chiqueiro, subsistem porcos que, enterrados até à barbela, tenazmente tentam resistir ao seu “abate”, com roncos de defesa, em valimento de uma inocência que eles próprios sabem não existir.
Temos vindo a assistir com pacífica indiferença a uma “indústria” de suinicultura política de encher os bolsos, e que só nos tem fornecido esterco, - e do fermentado - para infernizar as nossas vidas, apesar de sermos nós os principais abastecedores da bolota que tem alimentado os elementos da pocilga. Merda p’ra isto! Estou farto de bácoros! Que cancerígena moléstia!?
Mordem-se entre si, porém, nunca desprezam a reciprocidade na utilização da protecção mútua, mesmo quando algum caga na pia – e são tantos! - onde todos comem, ou borram os têtos onde todos mamam, assentado a sua atitude numa deontologia falsa mas de conveniência para a vara a que pertencem. É sempre a mesma coisa!
Como tortulhos, surgem suínos de todos os cantos e buracos do nosso cosmos politiqueiro; o cardápio é imenso; vão uns, vêm outros, num incessante corrupio como electrões à volta de um núcleo - neste caso, como pequenos bácoros à volta da mama – até que a força interactiva que os mantém unidos seja desmembrada. Aí eles param! Cuincando e estrebuchando, mas param.
Alguns, já caquéticos, ranhosos e tolhidos pela senilidade, que há muito deviam ter sido atirados às pulgas e cuja carne, mesmo em tempo de crise, até os cães se recusam rilhar, ainda grunhem com obstinada teimosia num último, porém falhado recurso, berrando por a uma justiça “justa”, esgrimindo razões que só nas suas mal oxigenadas mioleiras existem. Teimosos!
É que não é só um, são varas e varas deles; o “cardápio” é grande!

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 12/07/2015
www.antoniofigueiredo.pt.vu

*É uma câmara cheia de vapor de água,
destinada a identificar partículas atómicas
pelo rasto de condensação que deixam,
quando bombardeado por estas.