quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

A BANHA-DA-COBRA

A BANHA-DE-COBRA
(Das presidenciais em Portugal)

Esta, caros portugueses, não é do Instituto *Butantã de São Paulo, como apregoavam no meu tempo os propagandistas, nas feiras, festas e mercados municipais, com a sua chafarica montada numa esquina qualquer, cercada por meia dúzia de crédulos parolos com indagador deslumbramento espelhado no olhar, à espera de levarem para casa aquela caixinha de pomada milagrosa que dava para todas as dores; até para as dores de cabeça provocadas pela imbatível “azia” da sogra.
Esta caros leitores, apesar de não ser o produto acima referido, consubstancia perfeitamente o seu objectivo; sermos enganados.
Actualmente, não todas, mas uma grande maioria das pessoas, possui os saberes mínimos, para separar o restolho do grão, tendo em vista a avaliação das componentes morais e cívicas de um candidato a qualquer função, neste caso, à de Presidente da República.
Ora, a avaliar o que se tem passado na “campanha” para as presidenciais, a meu ver, é tudo, menos uma lição moralista ou de civismo, para os que assistem à contenda, em que os gladiadores se têm apresentado munidos não de armas brancas – são proibidas – porém de armas negras, onde o sangue jorra sobre os golpes calúnia, do desprestígio e do amesquinhamento mútuo, cuja grandeza mais não consiste do que um indecoroso contributo para atingir o almejado patamar da vitória.
Têm esfuracado o universo curricular uns dos outros, esmiuçando tudo até à mais ínfima e por vezes ridícula singularidade, intumescendo e transvertendo pequenos detalhes, por vezes irrisórios, em verdadeiras verrugas iconoclastas; fazem montagens sonorizadas e desenhos engraçados, porém tendenciosos, sempre com um sentido de puxar a brasa para sua sardinha.
Nos debates, consomem mais tempo com mexeriquices – que eu considero de baixo calibre – do que a apresentar a autêntica missão inerente a um verdadeiro Presidente da República, que no final de contas tem uma missão bastante condicionada; não é a ele que compete governar.
Este tem no seu papel fundamental - nunca é de mais repetir – outorgado pela CRP (Constituição da República Portuguesa), a representação do povo, perante o Governo e perante o Mundo; esta última de primordial importância atendendo à realidade de hoje, uma vez que a globalização requer uma figura amplamente conhecida, de benévola sensatez, ponderada nas tomadas de posição quando se lhe depararem e com poder de afirmação na nossa comunidade e no mundo.
Bem sabemos que todos estes créditos, por certo não são atribuídos a todos os “atletas” que entram nesta almejada corrida a Belém.
Perante isto o que aqui apresento e na minha mais modesta opinião, quem mais aponta o dedo, menos se presta para o acto a que se propõe: SER PRESIDENTE DA REPÚBLICA PORTUGUESA.
Este é o meu espontâneo contributo a oferecer aos portugueses, para que façam uso dele e não se iludam com A BANHA-DA-COBRA.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 14/01/2016

*
Este Instituto é
um centro de pesquisa biomédica, 
localizado no bairro do Butantã, cidade de São Paulo,
no Brasil.
Antigamente era muito nomeado pelos propagandistas 
ambulantes, para venderem uma latinha redonda que 
continha uma graxa amarelada para todas as dores e 
que afirmavam ser banha de cobra.
          www.antoniofsilva.blogsopt.com   


terça-feira, 12 de janeiro de 2016

LESMAS E CARACÓIS

“LESMAS E CARACÓIS”
(analogia)


São moluscos pertencentes à família dos ranhosos, cuja presença não é muito desejável na nossa comunidade, mas temos que os aguentar.
Estes gastrópodes, embora diferentes, ambos se arrastam num aparentemente penoso andamento, contudo, sem darmos conta, eles abicham ao cume do monte, onde um pasto leguminoso bem hidratado os espera para encherem a ávida pança, artilhada com insaciáveis bolsos sem fundo.
Ambos possuem não um, mas dois pares de “cornos” – é obra! - retrácteis; os inferiores olfactam e os de cima vêm e tacteiam.
“Correndo” sobre um tapete de pegajosa gosma e actuando com aparente suavidade, são estes moncosos que nos dão cabo dos couvais que arduamente foram sachados por nós à custa de muito trabalho e regados com gôtas de suor.
Se bem que pertencentes à mesma família, uns têm casa própria e os outros lá se vão arranjando – mas bem, claro!
Os que têm moradia própria, saldada à nascença, quando se sentem ameaçados, recolhem os “cornos” e enfiam-se dentro de casa, quietinhos como se nada houvesse acontecido; os da outra estirpe com o amparo mais diminuído, limitam-se a contrair, pensando no seu íntimo que passam as culpas do “desastre” para os outros – e por vezes acontece - e lá vão vivendo desse expediente, não deixando porém de dar cabo do nosso couval e outras plantas mais tenras; porque a estes aristocratas das plantações não é qualquer coisa que lhes serve!?
Se os deixarmos à larga, até a nós nos comem vivos. São uma cambada que se protege coesamente entre si e proliferam como minhocas.
Onde existe caracóis é imperativo existirem lesmas, cujo aspecto é nojento, repugnante.
Não sou biólogo, mas sinto que as lesmas são os lacaios dos caracóis; estes parecem-me, não digo mais inteligentes, porém mais espertos.
Até parece que estou a ver um caracol a “discursar” e umas quantas lesmas a rodeá-lo com um ar de incondicional assentimento, enquanto uma diversidade de bicharocos menos importantes os “ouvem” com velada atenção e no fim, quem tem “mãos” bate palmas, quem as não tem, bate com a queratina.
Para salvação o nosso couval, e outras plantações que fazem parte da nossa sobrevivência, há que dar guerra sem tréguas a esses gastrópodes sem escrúpulos, sem limitações e sem lei, se não, só nos deixam talos desidratados para roermos.
Temos que arranjar batalhões de predadores para dar cabo dessa peste.
Que cáfila são as…
 Lesmas e caracóis.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 10/01/2016
www.antoniofsilva.blogspot.com

     

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

BINÁRIO POLÍTICO

BINÁRIO POLÍTICO

Acredito piamente nas boas intenções de todos quantos se candidatam a cargos políticos, aqui ou em qualquer outra parte do mundo. Isto porque, em princípio, não existe matéria de facto que me leve a duvidar; apenas são esgrimidos bons pensamentos, doutrinas puritanas e ambiciosos objectivos, levantando às vezes a tampa da panela dos contendores para deixar sair umas palavras menos delicadas em forma de altercada fumaça, quiçá impróprias para quem se diz, ou é tido como uma personalidade nobre, numa comunidade aonde haja algum fio de civismo.
É mais ou menos desta forma que temos vindo a ser enganados ao longo de gerações, onde esvoaçam sonhos de promessas por cumprir; umas arquivadas nas prateleiras do esquecimento e outras ainda em exaustivo estudo até assumirem também a sua premeditada e compulsiva caducidade e remetidas também às teias de aranha.
Desta forma nos vão limando as concepções formadas ao longo da nossa penosa existência, em disputas recheadas de palavras azêdas e trocadilhos, esmiuçadas nos percursos de vida menos glorioso da cada antagonista, e “artisticamente” por eles empoladas, como dois garnisés a lutarem pela mesma penosa.
Todos, ou quase todos eles, se pautam em afirmar o puritanismo dos seus propósitos e a sua soberania idealista, encafuando no secretismo o que se passa nos bastidores organizativos das elites que por trás puxam os cordelinhos que lhes transmitem o movimento.
Na política, como em tudo, sempre existiram duas principais forças antagónicas, que gerem as coisas de maneira a que o árbitro esteja do seu lado; ou de uma ou de outra. Isso é mau. É mau, porque deixa de haver contrabalanço; quando não existe uma força a vencer, o trabalho é zero.
Se aplicarmos a qualquer sistema forças que só de um lado, podemos ter a certeza que esse sistema derruba.
Para que possa haver um equilíbrio é necessário que sejam aplicadas forças de igual intensidade mas de sentidos diferentes, para que possamos sustentar o sistema em equilíbrio.
Em política, esta teoria deve também ser aplicada; chamo a isto BINÁRIO POLÍTICO.
Entendam como quiserem.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 08/01/2016
www.antoniofsilva.blogspot.com