segunda-feira, 16 de maio de 2016

O ASSOBIO

Escrita há nove anos; quer parecer-me
que ainda hoje o sangue circula nas
minhas veias à mesma velocidade de então.

O ASSOBIO


 É uma propriedade que o ser humano adquiriu, cuja história se perde na imensidão dos tempos. Penso que o assobio é tão velho como a formação do universo, porque “no princípio só existia o Verbo”! E a palavra, em toda a sua abrangência é uma forma de som donde emanam todos os outros, audíveis e não audíveis para toda a criatura vivente.
 O assobio é a orquestra privada de quase toda a gente e principalmente dos mais desfavorecidos pela tecnologia. A particularidade de assobiar teve grande expansão antes de ter sido inventado o gramofone e porque não se pagava licença – agora também não, mas vamos ver até quando.
O assobio tem diversos patamares de interpretação que variam segundo o seu comprimento de onda e tempo de actuação. O tom oscila em função do local, do estado da alma, da hora, da intercorrência climática e daquilo que se pretende insinuar, como: ordenar, gozar, enaltecer ou até mesmo provocar irritação.
Para isso existem vários tipos de assobio: assobio de chamamento, de advertência, malicioso, de delicadeza, de apreço e lisonja, de comando, gozador, de admiração, de experiência, ouvindo o eco e certificar-se da existência o efeito Doppler, (não recomendado para moucos), para cortar a monotonia ou ajudar a resolver uma análise quando o pensamento está a discernir; até serve como terapia para provocar sono, aliviar a tensão espiritual ou dispersar a melancolia. Haveria muito mais a dissertar sobre as propriedades acústicas provocadas pelas vibrações do ar, mas não foi esta a intenção que me trouxe até aqui ortografando esta divagação sobre o silvo ou assobio, como melhor queiram entender.
Mais ou menos todos nós gostamos de assobiar e assim nos vamos mantendo se não se lembrarem nos cortar o pio. Não me pasmo nada se o fizerem, pois na decadência em que nos encontramos, tudo serve de motivo para arranjar dinheiro com o fim reabilitar a economia (dos outros), há trinta e tal anos atrás bem recheada por sinal, quando isto era um Portugal “desgovernado” – governado está agora! - sob a égide de um “fascista”, que quando compulsivamente abandonou este mundo, deixou também uma conta bancária particular cheia de cotão, e este, apenas recheado de patriotismo, única carga argêntea que não é palpável, porém pode ser constatável.
Ainda não acabei, mas já sinto que muitos, ao lerem o que acima acabei de escriturar, me imputam sintomas de oligofrenia profunda. Se assim for, é natural que estejam certos; porém, se assim não for também estarão dentro da razão, porque eu continuarei a “assobiar” da mesma maneira e na habitual entoação que tenho usado até agora.
Teimei em passar ao papel este pensamento, à primeira vista obtuso, mas, depois de assistir à germinação de tantas ideias, muitas sob forma legalizada, para nos arrancar à força direitos adquiridos e reduzir direitos a adquirir, que não me espanto nada que um dia não possa sair uma lei que nos imponha regras para podermos assobiar.
Basta que alguém se lembre e a comunicação social dê a devida ênfase, é muito natural, por exemplo, que amanhã possa brutar (mesmo brutar) uma norma que vise aplicar sanções pecuniárias àqueles que assobiem em público, sem possuírem o curso de um conservatório de música.
É muito natural! Então se já se pode pagar imposto por ajudar em forma monetária um filho, ou outra pessoa qualquer, porque não pagar uma coima por assobiar, sem estar credenciado para isso? Se quase todos os portugueses, mal ou bem sabem assobiar, seria um bom motivo a explorar pois renderia uma boa fatia para engrossar os cofres do Estado (?).
Pelo sim e pelo não, sugiro a todos os portugueses que sabem assobiar, e os que não sabem que comprem um assobio, e, juntos, assobiem em uníssono e façam um chinfrim dos diabos até rebentar os bofes e os beiços, pois um dia podem ter que calar a assobiadeira.
Tomem atenção ao que vos diz este tolo! Aproveitem a assobiar agora, enquanto é tempo.


António Figueiredo e Silva
Coimbra, 05/06/2007
Ou:
www.antoniofigueiredo.pt.vu

  




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