sábado, 25 de fevereiro de 2017

HIPERACTIVIDADE







Esta foi uma das ferramentas mais importantes
 para construção daquilo que foi a dignidade, 
a grandeza e a glória de Portugal no Mundo.
(A. Figueiredo)


                                                              HIPERACTVIDADE
(É de pequenino se torce o pepino)


Naquele tempo… não.
No meu tempo… este vocábulo não era conhecido com o significado que actualmente lhe é atribuído pelos especialistas que têm devotado o seu tempo ao estudo da personalidade humana na sua fase de limagem. Considero-o uma palavra onde a suavidade do fingimento se faz notar, afincadamente amortalhada numa mansidão e compreensão aparentes, onde o fingimento é rei.
Sempre existiram a traquinice, travessura, malandrice, rabinice, perrice, teimosia, o amuo, a caturrice, etc. hoje damos conta de que todas estas palavras se resumem a uma, que flutua domínio da condescendência e da compreensão, de todo, endémicas, que encobrem enganosamente os métodos educacionais de quem educa, que, adulterando a sua noção de ensinamento, atribuem vantagem aos futuros mal-educados, conotando-os, ainda pequenos, de hiperativos.  
No meu tempo não existia esta realidade; existia na educação, a austeridade e o exemplo, como as melhores partes da lição. O resto vinha por si e a seu tempo. Estas eram sementes que eram lançadas na nossa criação e que deram os seus frutos com os quais se veio construindo a sociedade outrora ordeira e hoje transformada numa bandalheira desenfreada, que tem promovido a decapitação dos valores cívicos. Todos sabemos disso, porque não é falácia; está à vista de quem sabe, e quer ver.
Naquele tempo não havia a hiperactividade, o neologismo inventado pela pedopsiquiatria, o espaço ilimitado de compreensão onde todas as maluquices podem ser “cientificamente” compreendidas sob uma condescendência miserabilista, ou pelo menos isso aparenta.
Porém, agarrando no termo – pedopsiquiatria - um bom pedopsiquiatra foi o meu pai; foi-o, e não tenho qualquer pejo em afirmá-lo. Isto, porque até aos nossos dias, não encontrei mais ninguém – mas certamente que há - com as suas capacidades, nos exemplos e na austeridade próprias à aplicação dos métodos terapêuticos (pedo-psicológicos), para frear a sua desproporção mediante as normas da realidade. Apesar de ter sido um homem da aldeia, havia sempre uma primeira e uma segunda repreensão; a terceira já não fazia parte do baralho da sua condescendência; pura e simplesmente caía em forma de “saraivada”, que os dedos das mãos se encarregavam de distribuir e me fazia baixar a crista da minha endiabrada agitação.
Era ele quem determinava e eu obedecia – pelo menos por algum tempo – até ir tomando tino na cabeçona ou sujeitar-me às tempestades.
Nunca me senti frustrado ou nutri necessidade de recorrer a algum psiquiatra por qualquer aleijão psicológico (traumatismo, é muito mais bonito) que tivesse ficado vincado na minha maneira de ser. Ainda hoje, mesmo infectado pela “PESTE GRISALHA”, como alguns macambúzios alardeiam, continuo a ser endiabrado, buliçoso, travesso e obstinado, porém nunca incivil, - e muito menos servil - e sempre procurei, como o meu falecido pai me ensinou, a ser cortês para quem o merece e a martelar com palavras de desagradado e agressivo criticismo aquelas mentes bacocas, imbecis, acameladas, de cérebro amorfo, que com desregrada “hiperactividade” procuram desgastar a nossa paciência e a nossa estabilidade emocional.
Actualmente as pessoas florescem muito cedo mas amadurecem tardiamente; algumas nem atingem o amadurecimento e acabam por cair como maçãs podres. Podres sim; mas essa situação é consequência da tal falta de controlo na moderação da hiperactividade, quando esta começa a manifestar-se empurrada também pela doutrina legislativa em vigor, que é hipoactiva.
Agora é o filho que tem o direito de apresentar queixa porque o pai lhe deu uma chapada correctiva – se calhar precisava era de meia dúzia delas – coartando deste modo o poder educacional antigamente detido pelos progenitores, educadores e professores.
Esta é a sociedade obtusa que temos, contudo, é de lembrar:   
É… é mesmo; “ é de pequenino que se torce o pepino”.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 26/022017