domingo, 19 de fevereiro de 2017

A DEGRADAÇÃO SOCIAL...

A educação é um processo social, é desenvolvimento.
Não é a preparação para a vida, é a própria vida.
(John Dewey)


A DEGRADAÇÃO SOCIAL…


…Decorre da existência de muitos pais que têm filhos e poucos filhos que têm pais, dando como resultado que uma parte da sociedade aja sem pensar e outra pense sem agir.
É na realidade desta dicotomia que o tempo se vai volatilizando, apesar de ser uma das maiores perdas da neo-sociedade, e esta, sem dar por isso, se vai afundando cada vez mais.
A meu ver, actualmente sufoca-se o espírito da criança com conhecimentos inúteis, fazendo delas uns seres insalinizados, cujas características mantêm pela vida fora; e nós, os seus mentores, não temos autoridade moral para nos queixarmos.
São raras as crianças que hoje nascem e crescem sob a noção dos valores que devem compor uma sociedade normal, que são a ética e a moral, alicerces sobre os quais se constrói um mundo civilizado. Sem estes conceitos, tornam-se seres egoístas e prepotentes, verdadeiros blocos do puro despotismo.
De há uns anos para cá, a criança nasce e é entregue a instituições que têm por missão tomar conta delas, alimentá-las, distrai-las mas não educá-las. A educação tem outras componentes que são a afectividade familiar e o seu comportamento, para os quais a criança dispõe de escasso tempo para os compreender, apreender e analisar à sua pueril maneira. No parco tempo que tem para estar com a família, esta dá-lhe tudo e em tanta demasia, que o excesso inconsciente acabará por deformar a maneira de ser da criança, fazendo dela um ser descaracterizado, resultado de uma vontade subdesenvolvida.
Não são os tempos que são maus. A sociedade é que os torna maus, porque a sua ambição materialista se tem sobreposto cada vez mais à afectiva.
É por isso que a sociedade está miserável, porque não sabe ver, nem tão pouco entender os bens que estão ao seu alcance.
Hoje vive-se num lago com peixes em que a água quase se evaporou, mas muitos não vão ser capazes de encetar diligências quando novos, sujeitando-se depois a uma velhice amarga e melancólica, como resultado dessa educação deficiente. Sim, porque a educação consiste em saber dar à criança, nem de mais nem de menos, porém a dose certa de amor, condimento inexistente nas instituições que delas tomam conta ou nas amas sêcas.
É precisamente neste doseamento que se imprime na criança a dureza do betão na vontade própria que mais tarde ela poderá impor aos diversos problemas que eventualmente lhe possam surgir, para não ser dominada por eles.
E é também pelo negligente doseamento desse betão, que a sociedade está a entrar numa degradação já bastante acentuada, que eu presumo sem possibilidades de regressão, apontando mais para um calamitoso colapso social e consequentemente da vida.


António Figueiredo e Silva
Coimbra





  




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