quarta-feira, 30 de agosto de 2017

CARÊNCIAS DA COMUNIDADE

“Não sou político; não me propus a este cargo
para defender a cor de um partido, mas aterra
onde nasci e os interesses do seu povo”.

António Eusébio Cardoso
(Presidente da Junta de Freguesia de
Vila Verde/Oura-Chaves-Portugal)


CARÊNCIAS DA COMUNIDADE

Eu também não sou político, nem seguidor de qualquer ideologia que transmita considerações sobre o assunto, não deixando contudo de exercer o meu poder votivo em quem eu entender, no uso da minha cidadania e plena liberdade de opção, ainda que no fim, a minha  selecção possa sair fracassada; mas o que hei-de eu fazer?!
A comunidade em que vivemos necessita de pessoas medianas que não ponham em questão os princípios fundamentais, e aí os tem; são aqueles que se propõem a administrar-nos, governando-se em primeiro lugar a eles próprios, pondo de parte os princípios essenciais: a ética, a moral, e acima de tudo, o bom senso.
Piores do que os catequistas religiosos são os lavadores de miolos da populaça; eles gerem as grandes empresas e ninguém sabe quem é o patrão; “orientam os países que lhes permitem exercer a mineralogia monetária privada e espalhá-la por todos os buracos bancários, escamoteando deste modo a sua proveniência fraudulenta; são os donos dos diversos ministérios, poços de fermentação de regulamentos que possibilitam a livre bandalheira que se pode ver. Mas para isso é imprescindível a colaboração do fanatismo, porque nele existem invariavelmente aqueles que apesar de não terem ideias de conceito também se recusam a mudar de questão.
É por essa razão que não há nada que tanto aterrorize as pessoas como as diferenças colectivas, que são o actual carcinoma que mina impiedosamente a sociedade em que vivemos, ou fazemos por isso.
Creio que a corrupção instalada nos meios governamentais teve o seu início na corrupção dos princípios daqueles que nos (des) governam.
Mas esta maleita, que a todos afecta, excepto os privilegiados erroneamente considerados elite, um dia há-de acabar por derrocar. O difícil da questão é que a corrupção é um crime sem rosto, sem impressões digitais, mas certamente é proprietária de um “ADN” policialmente investigável e legalmente condenável, se a lei não for falseada ou estrábica afectada por interesses pessoais e compadrios mafiosos.
Num estado onde impera a democracia, existem duas competências de políticos: os presumíveis corruptos e os verdadeiramente corruptos – obviamente que alguns (poucos) não se encaixam nesta dualidade de critérios; é dos últimos, os verdadeiramente podres, que a sociedade deve livrar-se, quando não, nunca irá a lado algum. Reconheço no entanto que poucas facções políticas escapam à corrupção, porque estas alojam crisálidas de corruptos no seu interior em estado letárgico, à espera das condições propícias à sua metamorfose
Enquanto subsistirem chorudas ajudas para campanhas eleitorais milionárias, a corrupção dos governos tem forçosamente que existir; é uma troca de favores que terá que ser paga, dê para onde der. Não acredito que exista tanto “burro” idealista no mundo, capaz de um financiamento a título filantrópico sem ter num futuro imediato o retorno avantajado do seu investimento.
A corrupção existe em todo o mundo e por mais paradoxal que possa parecer, transformou-se numa cultura política tutelada em grande parte, pela dualidade de critérios acolhidos na letra de lei, viabilizando que esta não goze de imparcialidade na sua aplicação. Por isso, o corrompimento só sobrevive onde a justiça é corrupta.
O que a nossa sociedade mais carece para uma boa governação é de pessoas com carácter, inflexíveis à causa que os move, exemplares na sua vivência em comunidade e que não se deixem levar por cromatismos, mas pelo valor do Homem em si.
Assim, teremos garantida uma boa governação; para nos desgovernar, qualquer burro o poderá fazer com toda a pompa e facilidade.
É o que tem vindo a ocorrer.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 29/08/2017