sábado, 16 de dezembro de 2017

ENTREGUES À BICHARADA

Querem conduzir um camião,
quando só têm carta de ligeiros.
(Paula Silva)

ENTREGUES À BICHARADA

Num país onde a semeadura de doutorice híbrida é um facto incontestável, girando, por analogia, à volta da enxertadura copulativa entre cavalo e burra, raríssimas vezes os resultados finais podem ser benignos e a justiça emperra.
O gado muar, que não é aquilo que parece, nem parece aquilo que é, nunca possibilita saber ao certo para que lado pende a sua constituição genética, ao mesmo tempo que nos deixam confusos e irritadiços porque se consagram a surpreender-nos sempre com tomadas de posição que não são mais do que o resultado de pensamentos burricais ou cavalares, ou ainda miscigenados, que a sua pobre cabeça matuta e sentencia.
Tanto zurram, como relincham, como são toldados de uma mudez infinita, todavia portadores de uma cobiçada manigância que lhes permite passar pelo meio da restante animalada atropelando tudo, inclusive o seu carácter defeituoso e atingirem um lugar privilegiado no topo da manjedoura.
Aí, é-lhes concedida autoridade decisória com poderes de regulamentação e controlo de toda a savana social, mas resguardado por uma impunidade sem limites, que lhes granjeia a possibilidade de escoicinharem à vontade e quem lhes apetecer, sem que sejam responsabilizados por quaisquer aleijões decorrentes das parelhas mal dadas.
E colocam animais desta estirpe, meio-acéfalos, cujo saber nem para uma regedoria servia, a desgovernar toda a bicharada deste serengueti nacional, onde todo o ambiente é pardacento e hostil, com grande odor a corrupção, ladroeira e favoritismos, anteriormente encapotadas e hoje com arreganhado descaramento.
Não percebo?!
Se têm carta de condução de ligeiros – se calhar mal adquirida – porque hão-de teimar em guiar um camião?
Aqui, ou estes híbridos são teimosos ou a animalada que pseudo-comandam não passa de um enorme amontoado de récuas genuínas, que em costumeiro lamento vão zurrando a sua sorte, sem dar um pinote que seja, para mudar a situação.
Estamos mesmo, entregues à bicharada.

António Figueiredo e Silva
Coimbra,16/12/2017

  


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