sexta-feira, 13 de abril de 2018

MODA É MODA!


MODA É MODA!
(Relvados, sebes capilares e outras “pancadas”)

É moda. 
Cada um é dono da sua abóbora, mesmo que o recheio a tivesse abandonado à nascença. O importante é ter cabelo – ou não ter.
Nos momentos em que o meu pensamento entra de folga – não é em greve, por enquanto – ponho-me a cismar calmamente sobre o que irei escrever, para que o meu cérebro não paralise. Desta vez, vai sobre os jardins suspensos da Babilónia, «da cachimónia queria dizer».
Que os portadores de tão diversos “penteados”, «ou despenteados», me escusem, mas sinto uma sequiosa vontade de falar sobre eles, porque alguns, devido à sua ridícula rareza, são destacados pela preciosidade que emanam para aos olhos de quem sabe apreciar o risível e fazer deles um passatempo de suprema distracção em que a noção da realidade se afunda, e os problemas do dia-a-dia esgueiram-se por uns largos momentos. Relaxamento!
Neste tipo de “floricultura” pilosa, já não será adequado dizer-se cada cabeça cada sentença, mas, cada abóbora seu “jardim” – se assim se pode titular.
Os gostos são díspares e cada cuca é uma cuca, em que é revelado o gosto do seu dono pela “hiodernice” do matagal cabeludo, por vezes aparado como as artísticas sebes dos parques e jardins nipónicos ou guedelhudo e caótico com uma floresta do Chile, onde bandos de morcêgos em frenético voo, vão cagando.
Outros são tão desgrenhados como a mata do Pinhal de Leiria antes dos da sua criminosa (?) incineração. Há desguedelhados que parecem ninhos de garças carrapateiras, moitas de tundra siberiana, mêdas de palha, caruma, ou, se estiver embezerrado, mais se assemelham a montes de estrumeira.
Aparecem também meloas com tudo rapado, e, no cocuruto, enrolado com alguma habilidade, está assente um tufo de piloris idêntico ao ninho de uma carriça, arquitectado com gosto e paciência – não de pássaro, mas de passarão.
Alguns, provavelmente influenciados pela nova lei atinente aos incêndios, optam por abrir uma clareira com o pente zero pelo meio da cabeça, para célere acesso a um imaginário carro dos bombeiros em caso de catástrofe pirómana, ou para facilitar às mãos um rápido ataque à caspa e à seborreia.
Também aparecem uns quantos, com bocados de estopa castanha atabalhoadamente torcida, que me fazem lembrar – graças à arqueologia - a figura desguedelhada e imunda do homem das cavernas.
É frequente também deparamos com figuras de pêlo cabeçal aos sulcos dando-nos a sensação – se calhar realidade – de que o barbeiro não os gramava e cortou-lhes o cabelo à pedrada, ou, em última análise, foi o resultado da fúria de algum vendaval.
Depois aparecem aqueles com mais vocação para a caça, e então rapam tudo dos lados, deixando uma moita redonda, oval ou rectangular, que eu penso ser reservado à piolhicultura de estimação, destinada ao divertimento da caça à unha.
Existem também uns, que dada a sua apetência doentia para o futebol, desenham um campo com relva de milímetro, ladeado por uma vasta mas bem aparada sebe, para amortecer a velocidade da bola resultante da “pancada”. Como que a aventurar-se a saír da capoeira à procura da alguma galinha choca, muitos parecem galos, pela crista que lhes encumeia a mona - quando são franzinos assemelham-se mais a garnizés.
Também não deixam a piada por mãos alheias, aqueles que, já desprovidos de mata capilar, ostentam umas dezenas de ridículas melenas brancas e/ou um rabichozinho de cavalo – já cansado -, a enxotar-lhes as moscas do colarinho da camisa ensebado.
 Mas, cada um mostra o que tem, não é verdade?
Contudo, não deixam de ser dignos de anotação, aqueles penteados artisticamente executados pelos próprios ou pelos barbeiros de bom gosto, onde reside uma habilidade natural que se estende na cabeça dos clientes sob a forma de desenhos e arabescos, em que se pode apreciar, desde hieróglifos à escrita cuneiforme, dos caracteres chineses até aos do ídiche, passando por alguns símbolos como a cruz suástica e lua em quarto-crescente e outros.
A variedade de facto é grande e há muito por onde escolher porque ideias não faltam; umas melhores, outras piores, umas mais recatadas outras mais ridículas, dependendo do gosto ou do desgosto de cada um, em função da sua personalidade, mas… gostos comentam-se, mas não se discutem.
MODA É MODA, bolas!

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 13/04/2018

Nota: Não sou a favor do
novo acordo ortográfico.
   
    




Sem comentários:

Enviar um comentário